Fernando Brito: Morto politicamente, Cunha segue sendocomo zumbi, até que venha a estaca no coração

17 de julho de 2015 | 23:27 Autor: Fernando Brito
walckingcunha
É generalizada a percepção na imprensa  de que Eduardo Cunha está politicamente morto, o que não quer dizer que seja uma figura inofensiva e incapaz de fazer mal.
Por obvia, a condição de morto-vivo do presidente da Câmara saltou aos olhos de todos.
Como saltou sua fúria, com golpes desconjuntados.
Até Josias de Souza, cujas inclinações são mais que conhecidas, registra que sobrou a Cunha “ressuscitar” pedidos de impeachment assinados por Jair Bolsonaro.
Natural que a imagem do zumbi se acople à sua situação, e ela foi usada aqui e em muitos textos para descrever seu estado de putrefação política.

Poucos, porém, fizeram-no com a competência de Rodolfo Borges, do El País.
Diz ele que Cunha, agora, no “rol dos mortos-vivos da política brasileira”, ataca por instinto porque não tem um “vida (pública) a perder”.
O ue ele diz sobre exterminar um zumbi depende, claro, da rapidez e da profundidade com que o Dr. Rodrigo vá. nos próximos dias, irá enfiar-lhe uma estaca de madeira no coração.

O ataque zumbi de Eduardo Cunha

Rodolfo Borges, no El Pais
A cultura pop ensina que a única forma de exterminar um zumbi é acertá­-lo de forma contundente na cabeça. Pode ser com um tiro, um machado ou as rodas de uma pick­up – vale tudo, pelo menos até a aprovação de um ‘Estatuto do Zumbi’. Guardadas as devidas proporções (sem armas, por favor), a informação serve para aqueles do Governo Dilma Rousseff que terão de confrontar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que passa a figurar nesta semana no nem tão seleto rol dos mortos-­vivos da política brasileira, que conta com nomes de imortais como Paulo Maluf, Jader Barbalho, Renan Calheiros e Fernando Collor.
Enfrentar um político do quilate de Cunha quando vivo já é muito difícil. Em todas as sessões da Câmara que presidiu neste ano, o peemedebista deixou bem claro que era o único a conhecer de fato o regimento da Casa, o que lhe permitiu infligir derrotas humilhantes aos indefesos governistas. Pior ainda, como ensinam seriados e filmes sem fim, é enfrentar um político zumbi, que não tem nem mais a vida (pública) ou a reputação a perder, mas segue agindo, moribundo, apenas pelo instinto de atacar.
É o que Cunha fez nesta sexta­feira ao anunciar o rompimento com o Governo Dilma. Acuado pela acusação de ter cobrado 5 milhões de dólares de um dos delatores da Operação Lava jato, o presidente da Câmara surpreendeu Brasília com uma atitude drástica. Os zumbis do cinema costumavam ir atrás de miolos – o que não é exatamente o forte no Palácio do Planalto –, mas Cunha parece apenas interessado em seguir cambaleando pelo Congresso Nacional, nem que para isso tenha de dar um fim a todos aqueles que, ao contrário dele, ainda seguem muito vivos pela Esplanada dos Ministérios.
Para seguir na metáfora, a origem do ataque zumbi geralmente ocorre por acaso. Na versão clássica, um produto químico vaza acidentalmente e contamina um cemitério. Nas narrativas mais recentes, cientistas inescrupulosos desenvolvem, com motivações bélicas, um vírus que acaba fora de controle.
Na versão brasileira, um grupo político em busca de hegemonia imagina poder suplantar todos os outros e, bem, também acaba perdendo o controle. Se os filmes de zumbi podem nos ensinar alguma coisa numa situação de crise como esta, é que, a não ser que apareça um Brad Pitt (ou pelo menos um Wagner Moura) para salvar o Governo, os mortos-­vivos ganham no final. Infelizmente para os petistas, que são o alvo preferencial do presidente da Câmara, a história da política brasileira confirma a ficção: os candidatos a herói podem até conseguir exterminar politicamente um ou outro morto-vivo, mas eles, que mantêm uma curiosa proximidade com o PMDB, sempre dão um jeito de sobreviver.

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