Edinho Silva: “As doações foram legais”

O ex-tesoureiro de Dilma e atual e ministro da Secretaria da Comunicação rebate o delator da Lava Jato e reclama da“luta política”
                                                                                Antonio Cruz/ Agência Brasil
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O ministro afirma que todas as contas da campanha da presidenta foram aprovadas por unanimidade
O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência Edinho Silva foi acusado pelo empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, de tê-lo pressionado, quando tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma Rousseff, a fazer doações em troca da manutenção de contratos da construtora com a Petrobras. Na entrevista a seguir, o ministro rebate as acusações, lamenta o vazamento seletivo, e enxerga uma “luta política” em curso.
CartaCapital: O empresário Ricardo Pessoa o acusa de achaque. O senhor o pressionou?

Edinho Silva: Devo ser o primeiro tesoureiro na história das campanhas brasileiras acusado por receber recursos legais. Declaramos todos esses recursos, a campanha foi auditada pelo Tribunal Superior Eleitoral e teve as suas contas aprovadas por unanimidade. Tudo correto do ponto de vista jurídico e ético. Estive com dezenas de empresários durante o processo eleitoral, e todas as conversas ocorreram dentro da legalidade. As doações aconteciam da mesma forma que com outras candidaturas e partidos. Segui as orientações da presidenta, tomei todos os cuidados e só arrecadamos recursos de origem clara.
CC: O senhor é acusado justamente por essas doações legais. Seriam uma moeda de troca para a construtora manter contratos...
ES: - Eu, a exemplo dos demais tesoureiros, não tenho bola de cristal. Os recursos foram transferidos legalmente para a conta bancária da campanha, de forma institucional. Fiz o que todos os tesoureiros fazem: chequei se a empresa poderia ser doadora e se a doação estava dentro do limite legal. Jamais fiz vínculo a qualquer outro debate. Tanto a UTC quanto a Constran, outra empresa do senhor Pessoa, têm tradicionalmente contratos com governos. Portanto, ainda porque me tornei tesoureiro apenas em julho, qualquer vínculo desta natureza não reflete a verdade.
CC: O senhor se encontrou com o empreiteiro em quais ocasiões? Qual o teor das conversas?
ES: Tive três encontros, o primeiro quando o conheci, no comitê em Brasília. Ele disse que sua empresa sempre colabora nas campanhas. Afirmou ainda que o Brasil estava no caminho certo, fez elogios ao nosso projeto e falou das doações. Disse ainda ter relações com líderes de outros partidos e que doaria a outros candidatos. Depois o encontrei nos escritórios da UTC em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ao todo foram doados 7,5 milhões de reais, tudo depositado na conta da campanha e declarado à Justiça Eleitoral. Tive com ele a mesma conversa que travei com mais de uma dezena de empresários. Pelo modelo eleitoral brasileiro, as campanhas são financiadas por empresas privadas. Eu e todos os demais tesoureiros só podemos buscar doações entre empresários.
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Edinho Silva (Secom) e José Eduardo Cardoso (Justiça) durante a entrevista coletiva em que falaram da operação Lava Jato
CC: O senhor pediu acesso à delação premiada?
ES: Formalizei ao ministro do STF Teori Zavascki o pedido para acessar a delação. Quero confrontar o conteúdo com o que foi divulgado pela mídia.
CC: Pretende processar o senhor Pessoa?
ES: Quando tiver acesso à delação, se se confirmar o divulgado pela mídia, tomarei as medidas judiciais cabíveis. 
CC: O senhor pode afirmar que todas as doações à campanha de Dilma Rousseff foram legais?
ES: Totalmente legais. E as contas foram auditadas pelo TSE, inclusive com o rigor do relator, o ministro Gilmar Mendes, extremamente respeitado e criterioso, e que deu o parecer pela aprovação. O voto dele foi acompanhado pelos demais ministros do TSE, e as contas foram aprovadas por unanimidade. 
CC: O governo está paralisado por conta dessas novas acusações?
ES: Não. Temos a certeza da legalidade da campanha da presidenta e confiamos nas instituições brasileiras. Com certeza prevalecerão os aspectos legais, e não a luta política. Não vamos paralisar o governo por conta de um vazamento seletivo utilizado politicamente. Isso tem de ser duramente combatido. Instrumentos criados para tornar a investigação mais eficiente infelizmente têm sido utilizados para uma luta política, e o governo não vai virar prisioneiro dessa lógica. Seguimos na construção de uma agenda de retomada do crescimento econômico, para o Brasil superar as dificuldades e seguirmos implementando nosso programa vitorioso de inclusão social, geração de emprego e distribuição de renda. 

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