Analistas políticos e econômicos comentam as declarações de Dilma Rousseff à mídia russa
Sputnik News
Em sua permanência na Rússia, onde participou da 7.ª Conferência de Cúpula do BRICS na cidade de Ufá, a Presidenta Dilma Rousseff fez dois pronunciamentos públicos. O primeiro, durante reunião com o Conselho Empresarial do BRICS, e o segundo, em entrevista ao vivo à emissora russa de TV RT. Três especialistas comentam as falas de Dilma.
Em seus pronunciamentos, a presidente exaltou a importância dos cinco países BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – e dois instrumentos financeiros criados pelo quinteto: o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o Acordo Contingente de Reservas.
Sobre a reunião e sobre estas duas iniciativas, Dilma afirmou:
“Eu acredito que esta reunião, a 7.ª Cúpula do BRICS, teve um resultado excepcional. Foi um marco nas nossas relações. Сoncretizamos a formação do Banco do BRICS, nomeamos toda sua estrutura de governança, inclusive já indicamos o presidente e os vice-presidentes do Banco. Além disso, fizemos um Acordo Contingente de Reservas, que é uma espécie de amortecedor para as crises financeiras, pelo fato de os mercados oscilarem muito. E esse Acordo foi assinado pelos presidentes dos nossos Bancos Centrais. Então eu acredito que a Cúpula foi um grande sucesso, além de ter sido muito bem organizada.”
“Estes dois mecanismos são muito similares a dois outros instrumentos já existentes, criados após a Segunda Guerra Mundial: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. No entanto, a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do BRICS, e do Acordo Contingente de Reservas comporta duas leituras. A primeira delas, a possibilidade de estes dois mecanismos serem vistos como alternativas e até mesmo para o fim da hegemonia desempenhada pelos Estados Unidos no cenário financeiro internacional, dado o fato de os EUA serem o maior contribuinte do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Então, esta seria uma estratégia de política externa dos países BRICS. A segunda leitura possível é a possibilidade de o Novo Banco de Desenvolvimento e o Acordo Contingente de Reservas virem a se transformar em instrumentos a favor do seu apoiador economicamente mais forte, que é a China. Então, é bastante possível que, em médio ou em longo prazo, o Banco e o Acordo atendam em maior escala aos interesses da China, o que configuraria quase que a mesma situação que envolve Estados Unidos, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.”
As sanções econômicas contra a Rússia, decretadas pelos Estados Unidos, União Europeia e por outros países, também mereceram destaque na entrevista de Dilma Rousseff. Perguntada se o Brasil tem sofrido pressões por não ter aderido às sanções contra a Rússia, Dilma respondeu:
“Não. Nunca recebemos nenhuma pressão. Nós no Brasil somos contra qualquer política baseada em sanções. Temos uma experiência muito negativa na América Latina – as sanções contra Cuba, que agora estão sendo levantadas. Não acreditamos que as sanções sejam solução em qualquer hipótese. Pelo contrário, as sanções, geralmente, ao invés de punir os governos, punem a população. E isso é inconcebível.”
Para o economista Gilberto Braga, professor de Economia do Ibmec-Rio e da Fundação Dom Cabral, a posição da presidente do Brasil é lógica e coerente:
O economista Gilberto Braga acrescenta: “Antes das sanções, a Rússia ocupava um importante papel na economia mundial, sendo um dos maiores fornecedores de hidrocarbonetos ao mesmo tempo que importava gêneros muito apreciados pelo seu povo. Com as sanções, o panorama se alterou acentuadamente.”
A possível influência de interesses externos sobre a política dos países da América Latina, especialmente o Brasil, também mereceu destaque na entrevista de Dilma Rousseff à RT. A pergunta feita à presidenta foi esta: “Tentativas de golpes brancos têm sido articulados na América Latina, com participação da direita e apoio dos Estados Unidos. O mesmo está ocorrendo no Brasil?”
E a resposta de Dilma:
“Não, não acho. Acho esta uma teoria conspiratória. Em nenhum país é preciso influência de fora para que algum segmento seja um tanto quanto golpista. Eles são golpistas por si mesmos. Não há país nenhum no mundo interferindo na situação interna do Brasil.”
Para Roberto Santana, professor de História e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a questão deve ser vista de forma mais ampla:
“Se, por um lado, sempre há grupos golpistas visando a mudanças no governo, por outro, existem articulações sempre atreladas aos interesses dos Estados Unidos. É sabido que deposições de governos que não respondem aos anseios dos Estados Unidos são, invariavelmente, atribuídas a este país.”
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