A Europa da chantagem e o ultimato à Grécia

O acordo imposto em Bruxelas a Alexis Tsipras veio mostrar aos europeus que a democracia vale zero para quem toma decisões nos corredores do Eurogrupo. O povo grego vai continuar a pagar a permanência no euro com a receita recessiva prescrita pela Alemanha. 

ESQUERDA.NET - Dossier organizado por Luís Branco.

Alexis Tsipras e Angela Merkel.
Neste dossier, publicamos o “plano Grexit” defendido pela Alemanha no Eurogrupo e o texto final do “acordo” anotado por Varoufakis, bem como a sua versão dos cinco meses de negociações. Recordamos também como Alexis Tsipras justificou o compromisso em que não acredita, as reações críticas que provocou no Syriza e o discurso do voto contra da presidente do Parlamento. E publicamos as posições de Jürgen Habermas,Jean-Luc MélenchonVicenç NavarroJoseph Stiglitz e de várias vozes da direita portuguesasobre as consequências da chantagem a Atenas para o projeto europeu.

Resto dossier

O acordo imposto em Bruxelas a Alexis Tsipras veio mostrar aos europeus que a democracia vale zero para quem toma decisões nos corredores do Eurogrupo. O povo grego vai continuar a pagar a permanência no euro com a receita recessiva prescrita pela Alemanha.
Dossier organizado por Luís Branco.
Em Portugal, não foram apenas os partidos à esquerda do PS a insurgirem-se contra a chantagem de Bruxelas e Berlim ao povo grego. Ex-governantes e comentadores políticos nos antípodas destes partidos também criticaram a “humilhação” que os líderes políticos europeus procuraram infligir ao governo da esquerda grega.
O ex-ministro das Finanças grego decidiu dar a conhecer as suas notas pessoais sobre o texto que serviu de acordo em Bruxelas e no qual, poucos dias depois, já quase ninguém diz acreditar.
A presidente do Parlamento grego e uma das figuras mais populares do Syriza votou contra os dois pacotes de medidas prévias à negociação do terceiro memorando. No discurso de 15 de julho, Zoe Konstantopoulou diz não ter dúvidas de que "Alexis Tsipras foi chantageado com a sobrevivência do seu povo".
Quando Alexis Tsipras regressou de Bruxelas com um acordo em que diz não acreditar e ter resultado da chantagem europeia, encontrou o partido dividido entre a estupefação e a revolta.
Nesta entrevista ao Guardian, o filósofo alemão Jürgen Habermas fala sobre o acordo imposto à Grécia, considerando-o “um ato de punição de um governo de esquerda”. E defende que as medidas exigidas são uma “mistura tóxica de reformas” que irão “matar qualquer ímpeto de crescimento” na Grécia.
Segundo o ex economista chefe do Banco Mundial e prémio Nobel da Economia, a Alemanha “não tem nenhum bom senso económico e nenhuma solidariedade”. Joseph Stiglitz  defendeu uma transformação radical da arquitectura financeira mundial. 
“A Europa ponto de referência mundial para aqueles que desejam viver em países democráticos e justos desapareceu”, defende o sociólogo e politólogo espanhol. No seu artigo, Navarro denuncia a enorme manipulação dos media espanhóis e alemães no que respeita à chantagem e ao ultimato a que foi sujeita a Grécia.
“O Governo de Alexis Tsipras resistiu de pé como nenhum outro na Europa. Devemos-lhe solidariedade”, contudo, “nada nos pode obrigar a participar na violência que lhe estão a infligir”, destacou Jean Luc Mélenchon poucos dias após a cimeira de Bruxelas.
O plano de Wolfgang Schäuble de expulsão da Grécia do euro, dado a conhecer na reunião do Eurogrupo de 11 de julho, impõe que o país entregue bens no valor de 50 mil milhões a um fundo para abater a dívida, sob a ameaça de mandar a Grécia para um “intervalo da zona euro” pelo menos até 2021. Aparentemente tem a cobertura de Angela Merkel e do vice-chanceler Sigmar Gabriel, líder do SPD.
No dia seguinte à assinatura do acordo, o primeiro-ministro grego recusou o cenário de eleições antecipadas, afirmando que assinou um acordo em que não acredita para evitar o desastre inscrito no plano dos “conservadores extremistas europeus”. Até à assinatura final do programa nenhum cenário está fechado, avisa.
Na primeira entrevista após deixar o Ministério das Finanças, Varoufakis revela que defendeu a emissão de moeda alternativa como resposta à asfixia dos bancos, fala da “completa falta de escrúpulos democráticos por parte dos supostos defensores da democracia na Europa” e acusa os governos de Portugal e Espanha se serem “os mais enérgicos inimigos do nosso governo”.

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