Tsipras: “A dignidade do nosso povo não é um jogo”

Alexis Tsipras no Parlamento - 27 junho 2015

Por 178 votos contra 120, o parlamento grego aprovou o referendo de 5 de julho às propostas dos credores, que Alexis Tsipras considerou um atentado à dignidade do povo grego. Para o primeiro-ministro, se o ’Não’ sair vencedor, isso não significará a vontade da Grécia romper com a Europa ou o euro, mas sim “pôr fim à extorsão e à coerção, práticas que se tornaram comuns na Europa”. E sobretudo servirá para reforçar o poder negocial de Atenas, sublinhou.


Com os votos do Syriza, Gregos Indepedentes e Aurora Dourada, e a oposição de Nova Democracia, KKE, Potami e PASOK, o referendo às propostas dos credores foi aprovado, após aceso e prolongado debate no parlamento da Grécia.

Num discurso em que convocou os exemplos de Konrad Adenauer, Willy Brandt, Enrico Berlinguer e Altiero Spinelli, por oposição aos dos atuais líderes das instituições europeias, Alexis Tsipras disse que este sábado ficará marcado na História “como o dia em que foi recusado o direito a um país soberano a decidir democraticamente o seu futuro”. O primeiro-ministro grego diz que há quem queira tomar decisões à margem das regras e regulamentos da União Europeia, referindo-se à exclusão da Grécia de uma reunião de ministros das Finanças após a reunião do Eurogrupo.
We don't need to ask permission from Mr. Schäuble or Mr. Dijsselbloem to let the voice of the Greek people to be heard.
“Não precisamos de pedir autorização ao sr. Schäuble ou ao sr. Dijsselbloem para que a voz do povo grego seja ouvida”, prosseguiu Tsipras, lembrando que ninguém pôs entraves à França para referendar a Constituição Europeia.

“A dignidade do nosso povo não é um jogo”

“Há quem julgue que o que passa na Grécia é um jogo. Mas a dignidade do nosso povo não é um jogo. 1.5 milhões de desempregados não são um jogo. 3 milhões a viver na pobreza não são um jogo. Esses jogos acabaram a 25 de janeiro”, afirmou Tsipras.
O primeiro-ministro denunciou ainda a propaganda do medo que começou após o anúncio do referendo e que se deve intensificar ainda mais até ao próximo domingo. “Só que às vezes essa campanha produz o efeito contrário”, avisou.
Tsipras descreveu ainda o empenho mostrado pelo governo nas negociações dos últimos meses, no sentido de aproximar posições, e diz ter sido confrontado pelas instituições – nomeadamente o FMI – para retirar as propostas de taxação dos mais ricos, manter o salário mínimo e abandonar as conquistas europeias nas leis laborais, como a negociação coletiva. E concluiu que a última proposta dos credores “não tinha por objetivo chegar a um acordo, mas sim a entrega da nossa dignidade política”.
Many are asking: what happens after the ? With a clear "NO", we will have a much stronger negotiating position.
“Com o apoio do nosso povo iremos rejeitar o ultimato que nos apresentaram e que é uma afronta às tradições democráticas na Europa”, acrescentou Tsipras, garantindo que só uma vitória clara do ‘Não’ poderá permitir o reforço do poder negocial da Grécia face aos credores. “Estaremos a dar a mensagem de que a Grécia não se rende”, sublinhou.
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