Porque o “ajuste fiscal” virou aumento de gastos?

24 de junho de 2015 | 21:15 Autor: Fernando Brito
dorecolorido
“A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”, frase atribuída ao médico e alquimista Paracelso deveria ser lembrada pela Presidente Dilma quando visse o que está produzindo a forma de fazer o “ajuste fiscal”.
Porque a forma “cavalar” com que se agiu ao colocar a ideia de que o país estava mergulhado numa crise e que seria necessário cortar e cortar despertou a oposição para arruinar o Governo justo no ponto que lhe é mais sensível: os direitos e vantagens trabalhistas.

Repete-se, hoje, o que ocorreu há dias com o fator previdenciário: o que não se deu, ponderadamente, quando havia condições políticas para fazer com prudência e escalonadamente, agora é atirado como fato consumado e, provavelmente, irreversível.
O reajuste dos aposentados nos mesmos  moldes do salário mínimo – justo, como o fator 85/95 – vai ficar. E Dilma, de novo, vetará, para propor, talvez, uma fórmula “intermediária” que, se não for praticamente igual, será derrubada, como ainda se arrisca a ser derrubada a progressividade do fator.
O Governo está manietado por algo muito mais grave que a contabilidade pública: a política.
De um lado, pela estratégia de deixar que a inflação permaneça alta – e muito mais alta para o povão, pois ela  é, basicamente, de tarifas de energia residencial e de gêneros alimentícios in natura, pois temos um Ministério para o Agronegócio e nenhum para o Abastecimento – e produzir uma elevação dos juros, como numa boa receita neoliberal e cortar despesas sociais e investimentos, coisa contra as quais, aliás, é Dilma a quase única barreira.
O efeito reverso é uma expectativa inflacionária maior e, com o grau de deterioração que a base parlamentar do Governo atingiu, fazer do Congresso um centro de “bondades” quem feitas da qualquer maneira, significam um comprometimento dos gastos grave, porque maior a cada dia, mês e ano.
O Governo Dilma, que não perdeu o rumo no longo prazo, precisa entender quem, sem o imediato, é o estratégico que fica comprometido.
Porque os nossos “bonzinhos” vão se aproveitando disso para enfiar nas votações situações que abalam o nosso futuro.
Serra vai “aliviar” a Petrobras, tadinha, do esforço de investir no pré-sal.
Os deputados patronais, tão generosos, aumentam as aposentadorias e reduzem-lhe o tempo.
Todo o discurso pela “austeridade” e pelo superávit – lembram desse termo da “moda”, que só reaparece para dizer que Levy não conseguirá alcançar?  – se foi e a ordem é gastar, que Dilma paga.
Paga, inclusive, o preço do desgaste político.
Depois querem saber porque o Lula chia. Chia porque vê o Governo perder naquilo que, como relembrou o Ricardo Kotscho, ele disse ao assumir seu primeiro governo que era onde não se podia errar: na política.

Comentários