Mauricio Dias: O povo não é bobo
Rosa dos Ventos
por Mauricio Dias — na Carta Capital - publicado 13/06/2015
Uma pesquisa Ibope, escondida pela mídia, revela que muitos brasileiros veem o jornalismo empenhado em aderir ao “quanto pior melhor”
Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Fotos Públicas
Durante a ditadura no Brasil, o Rei Pelé lançou um édito:" O povo brasileiro não está preparado para votar".
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, fora das quatro linhas onde conquistou, por méritos, o título de rei do futebol, pisa na bola com frequência. Ainda agora se meteu no escândalo da Fifa e manifestou apoio a Joseph Blatter, presidente renunciatário daquela entidade internacional corroída pela corrupção.
Nem de longe, no entanto, essa foi a pior interferência do jogador nas questões políticas. Durante a ditadura no Brasil, o Rei Pelé lançou um édito: “O povo brasileiro não está preparado para votar”.
Pelé fez um golaço. Daquela vez, já fora de campo, um golaço contra.
O eleitor brasileiro, ao contrário do que pensa Pelé, tem muito mais acertos do que erros, levando em consideração, por exemplo, as 11 eleições presidenciais diretas ocorridas ao longo dos últimos 70 anos da República. Sobre isso ele nada sabe e, para opinar, deveria saber. A afirmação de Pelé reflete a posição daqueles observadores movidos, em geral, pela ignorância ou pelo preconceito.
O povo não é bobo. A mais recente comprovação da correta percepção popular está nos números de uma pesquisa Ibope, feita em maio, sobre temas políticos e administrativos. A mídia silenciou sobre o assunto quando bateu de frente com a resposta dada à seguinte questão proposta ao entrevistado:
“A imprensa brasileira mostra o País numa situação econômica mais negativa do que a que percebo no meu dia a dia”.
O Ibope admite a influência da mídia “no sentimento de pessimismo dos brasileiros”. O instituto apoia-se no expressivo número de 41% dos entrevistados que acreditam nisso. Ou seja, “a imprensa mostra uma situação econômica mais negativa” do que parece ser.
Existe uma crise econômica inegável e o jornalismo não é por natureza mensageiro da bem-aventurança. É de Rubem Braga, o grande cronista, uma afirmação radical sobre isso: felicidade não dá manchete.
Apesar do bombardeio diário contra o governo, muitas vezes sem comprometimento com os fatos, desponta na resposta da maioria da população a restrição ao papel da mídia. Ela parece torcer contra e jogar na posição do quanto pior melhor.
Os entrevistados reconhecem isso. Por outro lado, andam, porém, mergulhados na descrença sobre o futuro do País porque vê e sente o desemprego em crescimento e a inflação em alta.
Entretanto, o problema neste caso não está contaminado pelo viés político-ideológico.
A mídia tem o direito de ser conservadora, reacionária ou o que mais quiser. Só não pode ser desonesta e esconder do leitor um fato, como o agora relatado, no fundo da gaveta.
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