Irão e Iraque enviam milhares de soldados para a Síria

Forças leais ao presidente Bashar al-Assad já só controlam cerca de 25 do território do país. Segundo a ONU, mais de 4 milhões de pessoas já fugiram do país.

7 de Junho, 2015 - 21:00h - ESQUERDA NET

Soldados da Guarda Revolucionária iraniana.
Vários órgãos de comunicação árabes informaram na passada semana que tanto o Irão como o Iraque enviaram milhares de soldados para a Síria a fim de apoiar o regime de Bashar al-Assad a fazer frente ao avanço dos grupos rebeldes. Os ataques intensificaram-se significativamente desde o mês de abril, e deixaram o regime enclausurado e à defesa numa pequena parte do país, basicamente na zona de Damasco e na costa mediterrânica.
Este acontecimento representa uma mudança substancial no conflito e que pode vir a ter várias implicações a médio e longo prazo. Se até agora Damasco tinha posto o enfoque em não aceitar tropas estrangeiras, a precária situação que enfrenta forçou o regime a convidar combatentes iranianos e iraquianos a engrossar as suas fileiras.  

Ainda que durante vários anos tenha sido comentada a presença iraniana na Síria, esta estava reduzida a um número pouco expressivo de oficiais e conselheiros da Guarda Revolucionária. Atualmente, estão em causa milhares de combatentes, 20 mil segundo avança o diário libanês e pró-Sírio Al Safir (outras fontes falam de 8 mil), que na sua maior parte serão mobilizados para o norte da Síria.
Alguns especialistas indicam que para reverter o conflito a seu favor, Assad precisaria de, pelo menos, 50 mil combatentes estrangeiros. Neste sentido, os responsáveis iranianos declararam há uns dias que Teerão está disposto a “ir até ao fim” e fornecer toda a ajuda necessária para que o governo não caia.
A posição de Assad agravou-se de tal forma que, segundo o ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, mal controla 25 por centro do território do país. Os reveses que sofreu nas últimas semanas foram bastante significativos, especialmente desde que o príncipe saudita, Mohammed bin Nayef, visitou a Turquia a 6 de abril para coordenar a guerra a norte e a sul.
A situação agravou-se ainda mais desde a recente queda das localidades de Idlib, Ariha e Yisr al-Shugur, na frente norte. Yisr al-Shugur, que caiu a 25 de abril, situa-se numa zona que poderá servir de porta de acesso à costa, o bastião dos alauitas, a minoria xiita a que pertence o presidente sírio.  Ilustrativa da baixa moral do exército é o facto de as tropas governamentais mal terem oferecido resistência aos insurgentes nas três localidades mencionadas.
De malas e bagagens na Síria está também o famoso general iraniano Qasim al-Suleymani, da Guarda Revolucionária, que consolidou vários triunfos contra os jihadistas no Iraque, avançam vários meios de informação árabes. Concomitantemente, o exército de Damasco purgou das suas fileiras altos-oficiais que não conseguiram fazer frente aos rebeldes no norte.
Neste contexto, há que atender ao recente comunicado que Washington emitiu, em que acusa o regime de cooperar com o Estado Islâmico. A administração de Obama sustenta que a aviação síria bombardeou posições dos rebeldes que coincidiu com uma ofensiva do Estado Islâmico no corredor que une Alepo à Turquia.
Por esse corredor circula a maior parte da ajuda militar que a Arábia Saudita e o Qatar dão aos “grupos rebeldes moderados”, onde se inclui a Frente al-Nusra, a filial da Al Qaeda na Síria. A acusação americana pode até ter um fundo de verdade, uma vez que Damasco, provavelmente, prefere que o corredor esteja nas mãos do Estado Islâmico do que em mãos dos demais rebeldes.
Nos últimos dois anos, o exército sírio combateu grupos rebeldes em 476 frentes, o que dá uma ideia da amplitude do conflito, bem como do enorme desgaste que as forças governamentais sofrem. Para além disso, é preciso ter em conta que tanto a Arábia Saudita como Israel abrem continuamente frente a norte a sul.
A aliança da Arábia Saudita e de Israel com a Al Qaeda da Síria é manifesta. Vários órgãos de informação dão conta do apoio logístico que Israel dá à Frente al-Nusra, tendo, inclusive, reconhecido que atende nos seus hospitais os seus combates, que depois devolve aos campos de batalha.
Entende-se, assim, que o líder da Frente Al-Nusra, Abu Muhamad ao Yawlani, tenha declarado à Al Jazeera que tem ordens para não atacar o Ocidente, incluindo Israel, apesar de os jihadistas da Al Qaeda controlarem parte da fronteira com o Estado israelita nos montes Golã.
Nas últimas semanas especulou-se que a única possibilidade de sobrevivência de Assad passaria por estabelecer um acordo de defesa mútua com o Irão, que passasse pelo envio de tropas para a Síria. Que se saiba, esse acordo não foi assinado, mas a chegada de combatentes iranianos e iraquianos indica que Teerão está a procurar alternativas para defender o seu principal aliado na região.
A guerra, que se instalou na Síria desde 2011, empurrou para o exílio mais de quatro milhões de pessoas, segundo dados da ONU. A maioria instalou-se em países vizinhos como Jordânia, Líbano ou Turquia. Uma vez longe do conflito, enfrentam um destino não menos duro: sobreviver em condições que às vezes atingem a pura miséria.

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