Fernando Brito: O Congresso do PT, o governo e os heróis com o couro dos outros
11 de junho de 2015 | 21:06 Autor: Fernando Brito
A política não é um convescote e muito menos uma sessão de terapia de grupo, onde tudo pode ser dito com irresponsável leveza ou, ao contrario, despejar toda a sua carga emocional.
A política lida com a realidade, com o objetivo essencial da mantê-la ou mudá-la.
É esta é a sua métrica.
Não faltou quem, inclusive eu, muitas vezes criticasse duramente as políticas dos governos petistas, com Lula e com Dilma.
Muito mais, porém, pelo que eles não fizeram, quando podiam (ou parecia que podiam) e muito menos pelo que eles fizeram.
Do subaproveitamento de oportunidades de criar ferramentas de defesa e – porque não? – acreditarem que não seriam atacados pela méquina de poder das elites, mídia à frente.
Agora, os jornais falam que o PT se reúne “no momento de maior afastamento” entre o governo e o partido.
Não creio que isso esteja acontecendo neste grau e, se estiver, é um grave erro político.
Nada a ver com subscrever tudo o que o governo faz ou de deixar de defender posições -corretas, inclusive, como a taxação das grandes fortunas.
Mas, como diz bem um amigo, o professor Nílson Lage, há muitos “exemplares eruditos do discurso da esquerda que culpa o PT por ter viabilizado, com artes de Macunaíma, o processo de melhoria das condições de vida da população, expansão do ensino superior e tudo mais que vimos nos últimos 12 anos. A questão é o preço – moral e politicamente insuportável, dizem”.
O próprio Lula, no seu primeiro mandato, muitas vezes, foi forçado a conduzir políticas econômicas que, em condições normais de temperatura e pressão, ele próprio e o PT detestariam.
E em situação de popularidade nada invejável.
Para quem duvida, cito a Folha de 11 de agosto de 2005, já ao terceiro ano de mandato:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seria reeleito se a eleição fosse hoje, segundo o Datafolha. (…) Lula perderia a Presidência da República no segundo turno para o prefeito José Serra (PSDB), derrotado pelo petista em 2002. De acordo com o Datafolha, Serra teria 27% dos votos e Lula 30% no primeiro turno. No segundo turno, pela primeira vez, o suposto candidato tucano levaria a melhor: 48% dos votos contra 39% de Lula.”
Todos sabem que, um ano depois, Lula foi reeleito.
E quem viveu intensamente aqueles dias sabe que parte importantíssima desta “virada” foi a plena afirmação do discurso nacionalista e de defesa das riquezas do país, que levaram Geraldo Alckmin a posar de camiseta e boné do Banco do Brasil e uma jaqueta cheia de adesivos de estatais.
Parecia, com todo respeito ao original, um Tiririca do neoliberalismo.
As defesa de posições mais nitidamente progressistas e de cunho de justiça social deve ser a de entender que é preciso criar as condições políticas para que elas possam ser postas em prática e isso está diretamente vinculado ao mundo real da política, como me referi ao início.
Só os muito tolos não percebem que os ataques ao Dilma não se reduziram, mesmo com as medidas econômicas de Levy merecendo o mesmo aplauso que receberam as de Antônio Palocci e Henrique Meirelles nos primeiros anos do Governo Lula.
Não arrefeceram porque têm como alvo a destruição de Lula, não de Dilma.
Vivemos uma ofensiva conservadora como poucas vezes se viu neste país e não se a vai furá-la com radicalização vazia, aquela que não pode se transformar em atos senão de desespero ou se tornarem resposta à frustração de militâncias.
É preciso cuidado para, até com as melhores intenções – daquelas que minha avó dizia estar cheio o inferno – não transformar a crítica em uma contrafação da esquerda, que acaba se encontrando, na prática, com a “onda” da direita.
O mundo, sabe-se a mais de meio milênio, é redondo e os deslocamentos opostos acabam, uma hora, chegando ao mesmo lugar.
Se não se enxergar isso, fica-se no purismo, e então concluo o raciocínio da Lage, de que Lula “deveria ter fincado o pé da proposta de integridade absoluta, nenhum acordo com as oligarquias. Pureza revolucionária. Não chegaria, talvez, ao fim do primeiro mandato, Não seria eleito para o segundo. Nada do que aconteceu teria acontecido”.
“Seria, porém,preservada a pureza dos ideais, não importa a grandeza do do sacrifício.
Os ideais são de quem diz isso.
O sacrifício teria sido dos outros.”
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