Fernando Brito: A Câmara legisla sobre minhas “partes”? Não? Então, parem de encher o saco…

24 de junho de 2015 | 23:22 Autor: Fernando Brito

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Francamente, esta audiência na Câmara para discutir se existe “ex-gay”é uma dos espetáculos mais ridículos que o Brasil apresenta ao mundo.
Não tenho notícia que, em qualquer ponto da Terra um parlamento esteja discutindo esta questão. Talvez lá no Isis, enquanto estão discutindo a quem degolam, mas lá não tem parlamento…

O que é que suas excelências têm a ver com o que cada um faz, deixa de fazer, torna a fazer, desiste de fazer ou teima em fazer com suas “partes pudendas”?
Nem eu nem você pagamos os deputados para dizerem quem dá o que a quem.
Não existe nenhuma outra questão em relação às orientações (ou opções, como querem os conservadores) sexuais que se liguem ao interesse coletivo que não o respeito, a não-discriminação e a proteção legal e estatal a quem for vítima de violência ou de preconceito.
Se alguns pastores querem “salvar a alma” de gays e lésbicas da danação, estejam à vontade, desde que as pessoas queiram. Mas façam como pastores, não como deputados, porque o legislador a todos obriga com suas leis, e não há obrigação possível na sexualidade alheia.
Não concordo em muitas coisas, como concordo, com o Jean Willys porque ele é gay, mas porque penso semelhante nestas questões. Nem discordo do Bolsonaro por suas propaladas convicções de “macho”, mas porque ele é um sujeito reacionário e truculento.
A propósito, achei corretíssimo Willys não ir lá, para virar alvo de provocação e ter de descer à baixaria.
O sujeito que não é tolo sabe que é um erro ficar batendo boca com essa gente, exceto quando ela prega a discriminação e a agressão.
É preciso “privatizar” a questão sexual – exceto no que falei antes, que se situa na esfera pública – porque, fora daquilo, é problema pessoal de cada um.
É necessário que se evite, em nome da liberdade de expressão, puerilidades que ofendam quem não pensa exatamente como os que defendem a mais ampla liberdade sexual, mas que também não querem partir para a discriminação grosseira e brutal que aquela gente prega.
Ou será que não se percebe que estão fazendo política eleitoral com o sexo – ou o pensamento sobre sexo –  alheio?
Isso não quer dizer  se calar diante dos absurdos, muito pelo contrário. Há dois dias fiz questão de reproduzir o ótimo e irrespondível texto do Gregorio Duvivier ironizando e dando um tapa com classe em Silas Malafaia.
Mas entender que o que eles desejam é provocação, afronta e bate-boca é um dever de lucidez política.
Até porque ninguém vai interferir com as minhas ou as suas “partes”.
E não perturbar o muito – embora não tudo – o que vínhamos avançando em matéria de convivência e  respeito.
O que se tem de dizer, sempre, é que ninguém pode ser discriminado, maltratado, agredido ou até morto, como ocorre, por ser gay, hetero, mulher,  negro, branco, candomblecista, mórmon, budista  ou lá o que for. Não pode ser porque é um ser humano, essencialmente igual a mim ou a você.
Homofobia, como toda fobia, essa tem cura pela razão, não pela provocação.
No mais, lembro de um imbecil que, nos tempos de faculdade, resolveu fazer gracinha com o “Barbosinha”, um colega gay de outra turma. Colocou no mural da escola uma provocação que envolvia “robalos”. Barbosinha nem discutiu. Na primeira reunião pública em que o dito cujo foi, deu-lhe um murro caprichado – daqueles de um só – na cara diante de todo mundo.
Que me perdoem os “politicamente corretos”, mas bons tempos aqueles em o nariz que se metia nas intimidades alheias levava um corretivo destes.

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