A China responde ao presidente da Mercedes sobre quem quer investir no Brasil
26 de junho de 2015 | 19:46 Autor: Fernando Brito
Dias atrás, numa entrevista arrogante na Folha, o presidente da Mercedes no Brasil fez a pergunta provocativa: ‘Quem vai arriscar investir no Brasil?’, reclamando que a empresa experimenta uma imensa queda em suas vendas de caminhões.
No dia, não pude lembrar que, três dias antes, outra multinacional alemã – a Basf – tinha inaugurado, com a presença da presidenta Dilma, uma unidade de produção de acrílico em Camaçari, na Bahia, que exigiu investimentos de R$ 1,8 bilhão – 500 milhões de Euros.
O que Herr Phillipp Schiemer não falou é que sua empresa está há muito tempo encalacrada em seus próprios erros de planejamento e falta de eficiência, como se retrata numa reportagem da Exame há mais de um ano (março de 2014) da qual reproduzo um pequeno trecho:
O ano passado (2013) trouxe certo alívio para as fabricantes de caminhões no Brasil. Graças à expansão do agronegócio, as vendas aumentaram 11%, e a produção, 43%. Mas a Mercedes não conseguiu aproveitar o bom momento como os concorrentes. Por ter um índice de utilização de peças nacionais inferior a 60%, ficou impedida de financiar as vendas de seu modelo mais caro, o Actros, usando uma linha de crédito subsidiada do BNDES. Além disso, arcou com o aumento do preço das peças importadas em razão da desvalorização do real, o que elevou os custos de produção.Mesmo assim, suas vendas aumentaram 10%, mas concorrentes como Scania e Volvo cresceram de 30% a 80%.
A indústria de caminhões cresceu em larga escala com o dinheiro do BNDES financiando as compras, mas a Mercedes não gerou a cadeia produtiva de autopeças que se exigia para isso, entenderam. Não foi o único erro e a matéria aborda outros, desde o fracasso do “Classe A”, modelo que resolveu montar aqui.
Pois é, deixei passar, mas logo surge outra oportunidade de responder.
Hoje, em encontro entre a Presidenta e o Vice-Primeiro-Ministro da China, Wang Yang, anunciaram a criação de um fundo de investimentos de US$ 20 bilhões – 75% do valor aportado pelos chineses – para financiar infraestrutura no Brasil.
Ele vão ganhar dinheiro no Brasil? Vão, não. Já estão, mas não ficam de chororô: investem e trabalham.
A fabricante de escavadeiras chinesa Sany Heavy Industry, que chegou em 2007 para competir com alemães e japoneses na venda de escavadeiras e guindastes, prepara-se para fazer a segunda fábrica em Jacareí, SP, bem perto da primeira, em São José dos Campos.
Numa reportagem (em inglês) no China News, um dos dirigentes da Sany, Xiao Hua, falou das dificuldades de entrar no mercado ( durante três anos tiveram só três clientes), de montar uma rede de revendas (levaram calote de oito dos seus dez primeiros representantes) e do desconhecimento dos equipamentos chineses”.
“A pergunta que eu mais ouvia era se a Sany era a Sony do Japão”.
Agora, com a segunda fábrica, se preparam para entrar na disputa pelas obras previstas nos pacotes de concessão, inclusive na demanda imensa da Ferrovia Bi-oceânica, mirando um faturamento anual de IS$ 3,2 bilhões.
Pois é, Herr Schiemer…E o senhor “chutando o país que o acolheu – e acolhe há décadas a sua empresa – por causa de uma queda, de 2013 para 2014, de 5% na venda de caminhões, chassis de ônibus e comerciais leves de sua empresa. Apenas 5%, sim, está nos números dos releases da Mercedes de 2013 e 2014
Tem uma frase atribuída a Leonardo da Vinci que, em alemão, é “Das Ende eines Dinges ist der Anfang eines anderen”
O fim de uma coisa é o começo de outra.
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