Piketty: Perdão à dívida alemã pós-guerra deve servir de exemplo para lidar com crise grega.

“Por que não podemos fazer a mesma coisa com a Grécia hoje?”, questiona o economista francês, autor de “O Capital no século XXI”. 

Artigo publicado no Opera Mundi - 23/05/2015

O economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller O capital no século XXI, esteve na quarta-feira (20/05) em Berlim, capital da Alemanha, onde aproveitou um evento literário para discursar sobre a questão do perdão europeu às dívidas públicas da Grécia.
Conhecido pelo debate da desigualdade de rendimento gerada pelo capital, o académico recordou que, no passado, outros dois países europeus passaram por longos períodos de dívida: Inglaterra e Alemanha.

Segundo Piketty, a situação britânica no século XIX após as guerras napoleónicas e a condição alemã depois da Segunda Guerra Mundial levaram as dívidas públicas das nações a serem “mais elevadas do que as da Grécia de hoje”, em mais de 200% de seus PIB's (Produto Interno Bruto), respectivamente.
Para o economista francês, a Europa deveria inspirar-se no exemplo do perdão dos Aliados à dívida alemã em 1953 para a anulação de grande parte da atual dívida de Atenas. “Foi uma coisa muito boa", diz Piketty, citado pelo Le Monde. “Isto permitiu a reconstrução do país, que se tornou uma grande potência económica mundial”.
Afundada numa dívida de 185% do seu PIB em 2014, o governo grego – encabeçado pelo partido de esquerda Syriza — tempago em dia as parcelas de empréstimo de credores europeus, mas está cada dia mais sem liquidez.
Para solucionar essa crise temporariamente, Atenas pede a extensão de um acordo de crédito o mais rápido possível, embora adote um discurso de abandono da austeridade que, por sua vez, é criticado por instituições financeiras como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BCE (Banco Central Europeu).
“Por que não podemos fazer a mesma coisa com a Grécia hoje?”, questiona o economista francês. "Os jovens gregos devem estar mais em desvantagem e serem mais responsáveis pelos erros cometidos no passado do que os alemães em 1953? Por que recusar o que foi aceite pelos alemães?”.

Comentários