Paulo Nogueira: Giancarlo Civita deveria fazer o caminho inverso do avô e ir embora para os Estados Unidos.
Postado em 15 mai 2015
Imagine que seu avô era um homem remediado que veio tentar a vida no Brasil e ficou brutalmente rico e influente.
Seu avô ganhou tanto dinheiro no país para o qual emigrou que você mesmo nunca precisou trabalhar a sério.
Que relação você teria com este país?
De gratidão, com certeza.
Mas não é este o caso de Giancarlo Civita, dono da Editora Abril, que publica a infame Veja.
Gianca, pela Veja e seus colunistas digitais e impressos, publica diariamente insultos ao Brasil.
Somos a Banânia, diz um deles, triunfal. Outro se gaba de ter mudado para Miami. Este é tom geral: cusparadas no Brasil.
E mais uma vez recordo o avô de Gianca, Victor Civita, fundador da Abril.
Victor tinha uma frase que gostava de repetir: “É mais fácil fazer diferença no Hemisfério Sul que no Hemisfério Norte.”
Ele pensava nele próprio.
Era um italoamericano que, nos Estados Unidos, trabalhara como mecânico e vendedor.
Teria chances zero, ou abaixo de zero, de fazer qualquer coisa de sucesso na área editorial ali, nos Estados Unidos. Não tinha talento para isso, e sua educação era escassa.
E então veio para o Brasil nos anos 1950. Aqui, as coisas são mais fáceis. Montou um império, e não apenas editorial.
No apogeu, fora as revistas, a Abril tinha uma rede de hotéis, editora de livros, frigoríficos.
Ainda em vida, VC, como era chamado, dividiu o patrimônio entre os filhos Roberto e Richard. Temia que os dois destruíssem a Abril numa eventual briga pela herança.
Roberto ficou com as revistas, e Richard com as outras coisas. Richard, atrapalhado, confuso, logo transformaria em nada a bandeja de pratas que recebeu.
Roberto demorou um pouco mais para fazer o mesmo que Richard. Editorialmente, Roberto começou a matar a Veja quando Lula ganhou a eleição.
Uma revista respeitada e guiada por conceitos universais de bom jornalismo bruscamente se transformou num panfleto ignominioso de direita tosca.
A credibilidade foi destruída, e os leitores mais qualificados intelectualmente abandonaram a revista.
A Veja já estava de joelhos quando a internet transformou revista em objeto em extinção.
Roberto jamais esqueceu a frase do pai.
Numa palestra para formandos em administração na USP, em meados da década de 2 000, ele repetiu-a.
“É mais fácil fazer diferença no Hemisfério Sul que no Hemisfério Norte, como meu pai gostava de dizer.”
(Eu estava presente naquele dia.)
Tudo isso posto, como explicar o ódio do Brasil que emana da principal revista de Giancarlo Civita?
Não fosse o Brasil, ele talvez estivesse agora batalhando como vendedor ou mecânico nos Estados Unidos, como o avô antes de se mudar para São Paulo.
Pioramos nós, ou foram os Civitas que pioraram?
Pensei nisso ao ler um texto que repercutiu ontem no DCM. Um jovem blogueiro britânico, depois de seis meses de Brasil, disse não entender a rejeição dos brasileiros pelo próprio país, “de invejável reputação no exterior”.
Dá para ver em seu relato que o blogueiro circulou no país em ambientes fortemente influenciados pela Veja.
Não é o todo, naturalmente, mas uma parte que, sob a inspiração da Veja, despreza o Brasil e idolatra os Estados Unidos.
Depois de ler o blogueiro, me perguntei: por que, então, Giancarlo Civita não faz o caminho inverso do seu avô e volta para os Estados Unidos?
Graças ao Brasil e aos brasileiros, ele e a família poderiam levar uma vida mansa e luxuosa em Miami.
Sem os Civitas, a Veja – no resto de tempo que a internet lhe permitir — talvez pare de cuspir no Brasil e de jogar para o abismo a autoestima dos brasileiros que a leem.
Os Civitas fazem mal ao Brasil hoje. Uma vez que gratidão não têm mesmo, que pelo menos poupem o país de sua pregação tão nociva, tão injusta e tão desonesta.
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