Obsoleto, Felipão se depara com um fim de carreira melancólico

POR FABIO CHIORINO - no Esporte Fino
10 meses: foi o que durou a segunda passagem de Felipão pelo Grêmio (Crédito:  Lucas Uebel | Grêmio FBPA)10 meses: foi o que durou a segunda passagem de Felipão pelo Grêmio (Crédito: Lucas Uebel | Grêmio FBPA)
Parecia questão de tempo. Depois de deixar o Palmeiras pela porta dos fundos e protagonizar um dos maiores vexames da história da seleção brasileira, Felipão tinha mais uma chance de retomar o status de um dos maiores treinadores do futebol brasileiro. O time não poderia ser melhor: o Grêmio, onde a idolatria pelo passado de enormes conquistas permitiria um clima mais amistoso e menos contestador. Foi assim na sua chegada, quando conseguiu terminar o Campeonato Brasileiro do ano passado com 56% de aproveitamento. Mas tudo ruiu após o Gauchão de 2015.

Felipão não é o maior culpado dessa vez. Tinha em mãos um time dilacerado por uma diretoria endividada. Perdeu Barcos, o artilheiro do time. Perdeu Marcelo Moreno, que voltava de empréstimo do Cruzeiro. Ambos para o futebol chinês. Recebeu de contrapartida refugos pontuais de outros clubes e o dever de lapidar moleques da base, o que historicamente nunca foi a sua especialidade. Para piorar, o declínio técnico do Grêmio correu em paralelo ao bom momento do Internacional, que venceu o Gre-Nal na final do estadual e disputa as quartas de final da Libertadores. A idolatria deu lugar às críticas de uma torcida desesperada por um título de expressão, algo que não acontece desde 2001, com a conquista do tetracampeonato da Copa do Brasil.
Mas Felipão também tem uma enorme parcela de responsabilidade. Sofreu contra times ridículos no estadual, novamente ganhou os microfones para reclamar publicamente do elenco e perdeu o controle do vestiário. Se dizendo envergonhado, chegou ao cúmulo de abandonar o banco de reservas antes do apito final na derrota para o Veranópolis. A imprensa começou a noticiar que alguns jogadores não concordavam com os métodos de treinamento do treinador. Situações similares àquelas vistas na sua última passagem pelo Palmeiras.
O sebastianismo enraizado no bigode de Scolari perdeu o efeito. A tal família que o técnico costuma formar nos clubes e seleções pelas quais passa também não existe mais. Sem atualizações táticas, Felipão virou refém de sua própria obsolescência. Pior: nem ao menos parece mais conseguir motivar um grupo, que sempre foi sua maior força na carreira. E se os atletas não jogam mais por ele, o que sobra é quase nulo. O que sobra é um treinador irritadiço, desestimulado, á espera de um milagre que lhe devolva os louros das glórias já longínquas. Não é exagero dizer que Scolari é um ex-técnico em atividade. E ganhando ainda fortunas, o que torna o contexto ainda mais constrangedor.
Não há qualquer garantia que um novo treinador dará jeito nesse Grêmio. Mas há no mínimo a sensação de que só um novo nome poderá tirá-lo desse marasmo. O Grêmio é hoje aquele senhor que não para de reclamar de tudo na fila do banco. Muito pouco para um clube dessa grandeza. Também é cedo para dizer se a Era Scolari chegou ao fim. Há sempre uma seleção de menor expressão disposta a gastar com técnicos de grife, ainda mais um campeão do mundo. Entretanto, resta saber o que o próprio Felipão deseja para os próximos anos. Encerrar agora seria assinar uma carreira de sucesso com um fim melancólico. Continuar exigiria uma nova mentalidade e outros métodos por parte do técnico. Um dilema enorme que ninguém poderá resolver por ele.
Após duas rodadas do Campeonato Brasileiro, o primeiro treinador demitido é justamente aquele do 7 a 1. Emblemático, no mínimo. O trauma permanece aberto como uma ferida de difícil cicatrização.

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