O buraco negro do PT
Wanderley Guilherme dos Santos |
Por Wanderley Guilherme dos Santos - no Segunda Opinião - 08/05/2015
O Partido dos Trabalhadores está, talvez, em rota para se tornar um buraco negro no espectro partidário. Com velocidade de meteoro, a estrela do PT incendiou a política nacional dobrando o tamanho de sua representação à Câmara dos Deputados em duas eleições sucessivas, entre 1982 e 1990, e a porcentagens crescentes até 2002, quando ainda aumentou a bancada em 18%. Desde então o ritmo de crescimento diminuiu para 16,0%, em 2006, 17,0% em 2010, e não mais do que 13,0%, em 2014.
A conquista de Assembleias Legislativas seguiu rumo instável com viés de baixa: 200,0% a mais de deputados estaduais em 1986, em relação a 1982, e 113%, na comparação 1990-1996. Daí em diante resultados erráticos levaram a crescimento negativo de -16,0% em 2006-2002, 7,0% positivos em 2010, e uma retração de -27,0% no contingente eleito em 2014. Eleições majoritárias para prefeituras revelam contínua redução da marcha: 120,0% de crescimento de prefeitos eleitos em 2004, 35,0% em 2008, e 15,0%, agora em 2012. Não obstante a estabilidade natural das representações partidárias, a estrela petista pode ser uma estrela apenas cadente ou entrar em colapso, esmagada pela gravidade de seu âmago. Com densidade eleitoral em declínio e expansão de um núcleo deteriorado a descoberto, arrisca-se à rejeição por parte de estamentos eleitorais que não lhe negaram apoio nem durante o episódio de flagrante caixa 2, transformado em ilícito penal pela mídia e um judiciário em surto de ressentimento e demagogia. Agora, não há escusas. O Partido dos Trabalhadores favoreceu e participou da predação de recursos públicos em escala de Primeiro Mundo. Mentiu e tergiversou como o fizeram primeiros-ministros e presidentes alhures. Evita liderar a necessária lavagem intestina do aparelho de Estado, mantendo seus simpatizantes reféns dos dedos em riste de terceiros, os dedos podres do conservadorismo. Não há porque exibir solidariedade a criminosos, vampiros das classes subalternas, fraudadores de bandeiras que não merecem. A redução do apoio eleitoral se iniciou, paradoxalmente, com a eleição de um presidente operário, fiador do combate à miséria. Escamotear os fatos equivale a desenhar uma trajetória em direção ao buraco negro. Evocar escândalos similares em outras sociedades constitui a mais distraída confissão do crime.
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