GGN: Depois de sumir, delator de Cunha e Anastasia agora sugere que foi coagido a falar


Jornal GGN - Jayme Alves de Oliveira Filho, mais conhecido como Careca, apareceu, enfim. Considerado um dos principais “transportadores de propina” do doleiro Alberto Youssef, o policial federal foi declarado foragido na semana passada, informação que ele negou após prestar depoimento ao juiz federal Sergio Moro, nesta segunda-feira (4).
Careca surgiu com uma novidade na Lava Jato: admitiu que, para se livrar da prisão preventiva, aceitou que Youssef "ditasse" os detalhes sobre os pagamentos que teria feito a políticos e empresários. Pela interpretação de falas publicadas pelo Valor, Careca sugeriu que foi "coagido" a dizer o necessário para obter liberdade.

“O delegado falou que se eu não prestasse alguma colaboração, iria ficar preso até a audiência que era o que estava acontecendo. Era praxe. Aí eu falei. Não tinha a menor intenção de ficar preso ali. Eu estava transtornado. Estava tomando remédio. Eu não estava legal", disse Careca, de acordo com o jornal. Além do Valor, a Agência Brasil também publicou notícia sobre o depoimento do policial. Os demais jornais focaram apenas no que disse os empresários da UTC e Camargo Corrêa, ouvidos por Moro na segunda.
Há alguns dias, a Procuradoria Geral da República solicitou ao Supremo Tribunal Federal a prorrogação de alguns inquéritos contra políticos envolvidos na Lava Jato. A Polícia Federal aproveitou para informar que não conseguira localizar Careca para depor. Em função de informações iniciais do policial, o senador Antonio Anastasia (PSDB) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), acabaram sendo investigados na Operação. Careca disse que entregou valores vultosos aos dois, por intermédio de terceiros.
Segundo Careca, o delegado Marcio Anselmo teria lhe dito que Youssef o ajudaria a “fornecer os nomes e tal”. “[O delegado] Me forneceu uma carga de caneta, um pedação de papel. Eu voltei pra carceragem para no dia seguinte ser ouvido. E assim eu fiz. Desci lá. Minha cela era ao lado da dele [de Youssef]. Ele falou, ‘olha, endereço tal era fulano, era beltrano, sicrano e tal’. Eu fui anotando aquilo mecanicamente”, relatou Careca ao juiz Sergio Moro.
A Agência Brasil publicou que “Ao ser questionado pelo juiz se Youssef ditou o depoimento no qual ele citou políticos que teriam recebido propina a mando do doleiro, o investigado respondeu: 'Se eu estava com ele [Youssef]. Eu desci na cela com ele. Eu desci lá e ele me passou em tal lugar foi isso, aquele hotel era de fulano', disse.”
Apesar de confirmar as entregas, Careca disse que não tinha conhecimento do conteúdo dos pacotes de Youssef. "Eu declarei [no depoimento] porque iria declarar tudo que ele [Youssef] me falasse. Qualquer coisa que ele me falasse eu iria declarar. Minha finalidade era sair de lá [prisão], não estava aguentando aquilo. Na minha concepção, eu não tinha porque estar ali. Eu não sabia da ilicitude", declarou.
O juiz Sergio Moro ironizou a fala de Careca, e perguntou: “Quando ele [Youssef] contratou o serviço do senhor ele disse que era para quê? Para entregar cartão portal?” Careca respondeu que achava que carregada, a pedido do doleiro, “documento sigilosos”. “Era transação entre empresários”, justificou.
Confirmações
Careca afirmou, entretanto, que entregou pacotes em endereços apontados por Youssef. Ele admitiu que conhece Fernando Soares, o Baiano, considerado operador de propinas do PMDB no esquema que desviava dinheiro da Petrobras.
O “courrier” de Youssef também reconheceu que não mentiu sobre a entrega de propinas a políticos e empresários. “Não, [o doleiro não pediu para] contar história nenhuma. Aquilo ele só estava falando de um exercício de memória, essa expressão que o senhor usou. Ele me falou: ‘quando você foi em tal lugar era fulano, só isso’”, respondeu.
Careca negou que tenha facilitado o embarque de outros transportadores de propina de Youssef no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, onde ele estava lotado.
Apesar de ser parte declarada do esquema de corrupção de Youssef, Careca não teve prisão preventiva prorrogada por Sergio Moro. O juiz federal optou por pedir o afastamento da Polícia Federal e outras restrições, como proibição de deixar o país.

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