Fernando Brito: Lula, o “candidato fraco”. Ou de como a direita gosta de sonhar
30 de maio de 2015 | 22:45 Autor: Fernando Brito
A Folha, hoje, antecipa uma eventual desistência de Lula de concorrer às eleições de 2018, com base em conversas que o ex-presidente teria tido com amigos (“muy amigos“) nos últimos dias:
“Preocupado com a crise política que atinge o governo de sua sucessora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que só terá condições de ser o candidato do PT nas eleições de 2018 se a avaliação da presidente Dilma Rousseff melhorar e ele tiver um legado para defender para seus eleitores.”
O argumento da Folha é o de que Lula temeria o processo que aconteceu a Brizola em 1994, quando sofreu uma derrota fragorosa nas eleições presidenciais, depois de não ter ido ao segundo turno de 89 numa decisão no photochart com Lula sobre quem enfrentaria Collor.
“Segundo um interlocutor, Lula afirmou que não adianta pensar que o povo votará nele só porque decidiu se candidatar. Brizola era “Deus” nas eleições de 1989, mas em 1994 perdeu até para Enéas, disse Lula, que ficou em segundo lugar nas duas vezes.”
Bem, mesmo sabendo que “amigo próximo de Lula” muita gente gosta de dizer que é e adora, mesmo em off, parecer confidente do ex-presidente, sinto-me no direito de apontar as diferenças entre as duas situações e, ao final, contar um diálogo que tive com Brizola depois daquele desastre eleitoral.
E o primeiro traço diferente é o de que Brizola não “era Deus”, em 1989: teve 15,5% dos votos. Lula, mesmo indo ao segundo turno, também não era: teve 16,1%. Só na disputa final com Collor, depois da “garfada” da versão do Jornal Nacional do debate, uma fraude, perdeu para ele por seis por cento dos votos (53 a 47%).
Em segundo lugar, a eleição de 1994 foi – “pequeníssimo detalhe” – marcada pelo lançamento do real e a interrupção abrupta de um processo inflacionário galopante que nos acompanhava havia muito tempo. Não é nem o caso de se discutir que ele se deu graças a um processo de endividamento do Estado, com a elevação da dívida interna da União, que passou de 12,35% do PIB, em 1994, para 31,57% em 2001.
Traduzindo: retirou-se dinheiro de circulação emitindo títulos a juros, como diria o Chacrinha, “realmente….”
Lula era o favorito em 94. Até maio, antes do lançamento da nova moeda, Lula as pesquisas apontavam Lula com 41%, enquanto FHC tinha 17%.
Quem venceu a eleição de 1994 com o dobro de votos de Lula não foi Fernando Henrique, mas aquela moedinha de borda dourada que “valia mais que o dólar”.
Politicamente, Lula é hoje o candidato mais forte às próximas eleições presidenciais , mesmo no pior momento de popularidade de Dilma Rousseff.
Aécio, mesmo em pesquisas realizadas agora, tem o mesmo que teve no primeiro turno de 2014.
Se o quadro eleitoral de hoje é algo próximo do pior dos últimos tempos, é bom lembrar que o PSDB jamais ganhou eleição sem a máquina federal e, até com ela, perdeu em 2002.
Quanto à história do Brizola, lembro de um diálogo que tivemos após aquele resultado infeliz, por telefone. Ele disse que ia pendurar as chuteiras, que depois daquilo ia fazer o que não pudera fazer na vida de polítíco, depois de exilado e, na volta, de protagonista da vida nacional: dar atenção à família e cuidar de aproveitar os últimos anos de vida – ele já tinha 72, faria 73 em dois meses.
Eu lhe disse então que tinha toda a razão, que já tinha dedicado a vida inteira a uma causa, que ninguém o poderia culpar por essas “férias finais”, mas que, entretanto, havia “um probleminha”…
– Que problema, Brito?
– É que semana que vem o senhor vai me ligar e dizer: Brito, mas tu viste os jornais? Viste esta sem-vergonhice essa história deste Fernando Henrique dizer que… Olha, tu redige uma nota, etc, etc…Esse é o problema, o senhor não consegue nunca mais se afastar da política…
Brizola, que não era de dar risadas, deu uma e disse: “é, Brito Velho (quando ele queria me provocar me chamava de Brito Velho, seu adversário político nos anos 50, no Sul), tu tens razão…
E assim foi até o dia da véspera de sua morte, uma década depois.
A “fraqueza” de Lula como candidato é menos um fato que um desejo da mídia da ma mixórdia da política brasileira que quer qualquer um no Governo do país, menos alguém que tenha visão de estadista e compromisso com a existência de um país autônomo, não de uma colônia do capital.
Salvo por razões imponderáveis, hoje, Lula é candidato.
E favorito num primeiro turno.
Depois? Bem, depois depende de quem será o adversário e de como será a campanha.
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