Fernando Brito: Entre a Gestapo e o hospício

Autor: Fernando Brito
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Estou aqui, no molho necessário, assistindo à sabatina de Luiz Edson Fachin no Senado.
Embora seu desempenho tenha sido mais do que correto, equilibrando habilidade com sinceridade, não é possível ver aquilo sem um sentimento de vergonha.

Vergonha não só do Senado mas, sobretudo, do comportamento da mídia e de seus comentaristas.
Praticam o que seria o comportamento de uma polícia política de regimes autoritários.
“Em 1980 e tantos o senhor advogou para a organização XYZ”. “O senhor escreveu que era a favor disso ou daquilo”. Ou que o fulano contratado pelo genro de Fachin para montar uma página no Facebook – Facebook é só para apanhar? – seja ou tenha sido funcionário de uma empresa que prestou serviços à campanha de Dilma.
Ah, sim, é preciso tomar cuidado com convites de casamento, conversas com advogados, blogs financiados pelo Governo – que, sem o ser, “são”.
Sem exagero, estamos no ponto em que ter almoçado com alguém ou ter comparecido a uma festa de aniversário virou “prova” de cumplicidade.
Há um clima de histeria produzido pela mídia que se espalha pela sociedade e envenena a vida.
E o pior deles é que acabou por tornar-nos maneirosos, jeitosos, quase camuflados ao dizer o que pensamos e que, em outros tempos, eram quase evidências.
É preciso, quase sempre, entrar “na onda” do sujeito, como que a golpes de jiu-jitsu, usar as falsas verdades que repete para desmontar-lhe a lógica e, quem sabe, jogar um raio de luz à pobre cabeça.
Invertemos o ditado e a hipocrisia parece ser a ferramenta da virtude contra o vício, quando temos de argumentar.
O que há de mais pobre nas intervenções de Fachin é isso, a ginástica que tem de fazer para conter a sanha gestapiana com que é inquirido.
Senadores como Ronaldo Caiado e Aloysio Nunes Ferreira – um prodígio para quem quer cobrar “passados corretos” – sabem que a mídia lhes fornecerá luzes para que sejam agressivos.
Como, noutra esfera, uma doleira, mulher por quase dez anos do “bandido profissional” Alberto Youssef, sente-se à vontade para elogiar o juiz que a prendeu, exibir o traseiro para mostrar onde carregou o dinheiro e fazer a defesa – chega a doer ler isso – do que, na sua abalizada opinião, deva ser a “cruzada da moralidade”:
“Se for necessário que haja recessão, que haja desemprego, que haja tudo isso, para acabar com essa corrupção, poxa vida! Vamos lá. Enquanto não cortarem o mal pela raiz, vai continuar.”
Então está bem: o Brasil está tendo um choque de moralidade.
Em matéria de choques, só o que dá para imaginar com este tipo de exemplos são os de triste memória que se davam nos hospícios e na Gestapo.
Mas, claro, com toda a elegância.
Como eram elegantes os uniformes que tornavam garbosos os nazistas,no nascedouro da griffe Hugo Boss.

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