DW: Vaticano se torna importante aliado político de Cuba

Havana e a Santa Sé mantém relações estreitas. Visita do presidente cubano, Raúl Castro, e ida do papa à ilha em setembro sugerem novas mediações da Igreja Católica e destacam a crescente importância política da aliança.
A aliança entre católicos e comunistas se deve principalmente a um inimigo em comum: o materialismo. Ironicamente, quem deu o pontapé inicial para esta aliança foi justamente o papa anticomunista João Paulo 2º. Quando visitou Cuba em 1998, ele criticou não só declínio moral e o crescente secularismo no mundo ocidental, mas também o embargo comercial dos EUA contra Havana.

"Que Cuba se abra ao mundo e este se abra para Cuba!" Com esta frase histórica, João Paulo 2º estabeleceu o fundamento para a cooperação entre Cuba e a Cúria. O pontífice polonês foi o primeiro chefe do Vaticano a realizar uma visita ao regime comunista em Havana. E o então líder cubano, Fidel Castro, soube usar para si próprio a crítica papal ao embargo americano.
Caridade sem embargo
"O mundo já não consiste mais em ter bons católicos e maus comunistas. Esses tempos ficaram para trás também em Cuba", disse na época a diretora da Caritas, Maritza Sánchez Abillud. A organização católica de ajuda humanitária, fundada em 1991, possui atualmente uma rede de 12 mil voluntários no país e segue sendo liderada por Sánchez Abillud.
Caritas Cuba é uma de 165 organizações nacionais da instituição católica espalhadas por todo o mundo agrupadas sob a administração da Caritas Internacional. Ao menos no campo do trabalho social da Igreja Católica o embargo dos EUA aparenta já ter sido suspenso, afinal de contas, o maior doador para Caritas Cubas é o "Cathloic Relief Service" (CRS) – uma agência humanitária internacional da comunidade católica dos Estados Unidos.
Última homenagem: após a morte de João Paulo 2º em abril de 2005, Fidel Castro escreve no livro de condolências
A Caritas Alemanha também espera por uma maior cooperação com a coirmã cubana. "Até agora, temos trabalhado apenas nas áreas de apoio em catástrofes e na assistência de idosos e deficientes", disse o chefe da Caritas Internacional, Oliver Müller. "Mas poderia ser mais, se o governo se abrisse no futuro." Afinal de contas, a Igreja é a instituição mais provável que possa assumir essas tarefas sociais em Cuba.
Müller não só acompanha a mudança de curso em Cuba, mas também dá atenção à Cúria em Roma. "Em relação à política da Igreja, os sinais mudaram radicalmente", disse. Sob o papa Bento 16, por exemplo, seria impossível que teólogos da libertação como Gustavo Gutierrez fossem convocados à reunião anual da Caritas Internacional. O novo papa, no entanto, não possui receios. "Estou otimista, porque agora há um sinal de cima que diz: mexam-se!", comemorou.
Catecismo para comunistas
O degelo entre Havana e a Santa Sé começou depois da queda do Muro de Berlim. Em outubro 1992, Fidel Castro ordenou a transformação de Cuba de um Estado ateu a um Estado laico. Desde então, católicos podem se tornar membros do Partido Comunista e comunistas podem ser católicos.
O arcebispo de Havana tem a incumbência de preparar a visita do papa Francisco a Cuba, em setembro
Até mesmo o clero cubano já não está tão isolado como nas décadas de 70 e 80. A Conferência Episcopal de Cuba é membro do Conselho Episcopal Latino-Americano (Ceslam) – padres e bispos podem viajar livremente. Em 2012, em decorrência da visita do papa Bento 16 em Cuba, Raúl Castro reinstituiu a Sexta-feira Santa como feriado nacional, num gesto de aproximação com a Igreja Católica.
Apesar da conexão direta com o Vaticano, a Igreja Católica em Cuba enfrenta inúmeros problemas. Edifícios clericais estão deteriorados, sacerdotes possuem muitas vezes apenas bicicletas enferrujadas para ir de uma comunidade a outra e o acesso às mídias sociais é complicado. A situação desfavorável dos direitos humanos e a perseguição a opositores do regime dificultam o trabalho diário da Igreja Católica em Cuba.
Velhos homens, novas ideias
Após a bem sucedida mediação do papa Francisco na reaproximação entre Cuba e Estados Unidos em dezembro de 2014, pode ter ficado custoso para Raúl Castro recusar os pedidos por melhores condições de trabalho para a Igreja na ilha. E ainda assim, em sua audiência privada no Vaticano neste domingo (10/05), não será conversado apenas sobre a restauração de locais de culto ou possibilitar o acesso a internet.
O encontro histórico serve muito mais como preparação para o próximo ápice diplomático: a viagem de Francisco a Cuba em setembro. Pois logo em seguida, o pontífice viajará para Washington. E talvez com mais do que apenas cumprimentos de Raúl Castro na bagagem.

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