Camila Nogueira: Bolsonaro e o “Orgulho de ser Hétero”
Há cerca de dois meses, uma amiga enviou-me uma imagem. Dentro de um carro, armas. “Direitos humanos? Desconheço essas palavras”, afirmava. Era da página Orgulho de ser hétero – que, para mim, poderia ser classificada facilmente como uma das mais odiáveis do Facebook – e comportava a segunte legenda: “Direitos humanos para humanos direitos”.
Orgulho de ser hétero, página cuja imbecilidade já se faz visível pelo próprio nome, consiste em um apanhado de considerações extremamente machistas, homofóbicas e violentas, que partem do belo pressuposto de que, em poucas palavras, as minorias oprimem as maiorias.
Feministas, dizem, não reconhecem os inúmeros benefícios do machismo. Um deles? No momento em que o Titanic estava prestes a afundar, o machismo salvou a vida das mulheres. Homens e – o que é ainda mais trágico – mulheres curtem, compartilham e aplaudem esse tipo de loucura. Eu me pergunto se tais pessoas realmente acreditam que o machismo é uma bênção para as mulheres. “Se você acredita nisso”, diria o duque de Wellington, “acredita em tudo”.
Os mais exaltados defendem que o direito ao voto por parte das mulheres não foi fruto da luta de sufragistas como Emily Davison, Elizabeth Cady Stanton, Emmeline Pankhurst, entre outras – e sim um presente generoso concedido pelos homens, sempre prestativos e magnânimos.
Suponho que essas mesmas pessoas vejam a abolição da escravatura no Brasil como um doce momento de bondade heróica da parte da princesa Isabel.
Muito bem. Faço o possível para manter-me afastada de páginas que destilam ódio, mas um vídeocompartilhado por um conhecido capturou a minha atenção.
Nele, Jair Bolsonaro respondia as questões a seguir, enviadas por uma internauta: “O que o senhor acha dos políticos enrustidos? Há políticos enrustidos na câmara? O senhor se encaixa entre eles?”. Perguntas indelicadas muitas vezes resultam em respostas indelicadas, mas nenhuma indelicadeza poderia justificar a resposta do deputado. Se não fosse casado, avisa, responderia pessoalmente – e a internauta entenderia a diferença entre transar com um “homem” e com um “homossexual”. E, se fosse obrigado a provar sua virilidade, colocaria uma cama no Maracanã e transaria publicamente com a irmã ou com a mãe da jovem.
Algumas questões devem ser levadas em conta.
Antes de mais nada, a distinção entre “homem” e “homossexual”. Aparentemente, na limitada visão de Bolsonaro e de seus seguidores, a homossexualidade priva um homem de sua masculinidade – o que é uma ideia completamente equivocada. A não ser que o homossexual em questão enxergue a si próprio como mulher e deseje ser visto como tal, ele é tão homem quanto qualquer outro.
Em segundo lugar, temos a questão da objetificação da mulher, que é combinada ao seguinte: para provar sua masculinidade, é necessário que um homem a domine sexualmente.
Quanto a isso, eu poderia repetir a frase de Wellington, mas não seria o bastante. Quem acredita nisso não só acredita em tudo, mas ignora a sexualidade gerada, acalentada e incentivada por esse tipo de concepção: violenta, impessoal, desprezível e, verdade seja dita, desqualificada.
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