“A Alemanha manda na Europa porque 27 Estados-membros permitem que isso aconteça”

Marisa Matias teceu críticas ao caráter anti democrático das instituições europeias. Sobre a chantagem exercida sobre o governo grego, a eurodeputada do Bloco frisou que o que Bruxelas está a dizer “é que não vale a pena celebrar eleições nos países já que, ganhe quem ganhar, vão ter que adotar as normas ou medidas que eles mandam”.
ESQUERDA.net

Foto de Tobias Kleinschmidt/EPA.
“Quem manda na Europa é Alemanha, mas fá-lo porque há outros 27 membros que o permitem. A responsabilidade da destruição social que estamos a viver na Europa é de todos os governos”, defendeu a eurodeputada numa entrevista ao La Marea.
Marisa Marias teceu críticas ao caráter anti democrático das instituições europeias, salientando que “em Bruxelas estão concentrados os poderes que tiram aos cidadãos a capacidade de poder decidir sobre muitas coisas importantes das suas vidas”.

Ao contrário do que nos tentam convencer, a Europa não está a sair da crise e a crescer, existindo, na realidade, “um crescimento negativo, que é uma expressão muito criativa dos economistas, ou um estancamento”, avançou ainda a dirigente bloquista, lembrando as altas taxas de desemprego e o aumento das desigualdades.
“Não se pode dizer que a economia está bem quando a vida das pessoas está pior”
“Não se pode dizer que a economia está bem quando a vida das pessoas está pior”, frisou.
“É necessária uma refundação da UE por forma a que seja mais democrática. Primeiro, porque os tratados não estão adequados às sociedades em que vivemos e porque as regras não funcionam”, defendeu Marisa Matias.
Sobre a ascensão de alguns partidos da extrema direita na Europa, a eurodeputada adiantou que quando “as instituições não respondem às necessidades da população, pode o vazio pode ser ocupado por forças como essas”.
“As [instituições] que governam atualmente os países europeus, ainda que se chamem e auto proclamem europeístas, estão a destruir o projecto europeu”, acrescentou.
“Na UE existem pelo menos 24 países incumpridores”
No que respeita às exigências de Bruxelas à Grécia, a eurodeputada lembrou que na UE existem pelo menos 24 países incumpridores.
“Há uma lógica de que os virtuosos vivem no norte de Europa e os desonestos no sul e há que os castigar, já que são incumpridores. Isto não é verdadeiro, já que os critérios do Tratado de Maastricht não são cumpridos pela maioria dos países. Por exemplo, a Alemanha não cumpre com o tratado já que tem excedentes comerciais que não são permitidos”, referiu Marisa Matias.
Segundo a dirigente bloquista, “o que estão a dizer as instituições é que não vale a pena celebrar eleições nos países já que, ganhe quem ganhar, vão ter que adotar as normas ou medidas que eles mandam”.
TTIP: “As empresas e corporações terão mais poder que os Estados”
Marisa Matias criticou ainda o processo de negociação do Tratado Transatlântico (TTIP) entre os EUA e a UE, destacando que o Parlamento Europeu não tem acesso a nenhuma informação e não pode intervir. Segundo a dirigente bloquista, o TTIP “vai mudar muito a vida das pessoas e tem dimensões muito perigosas, como o tema dos tribunais arbitrais que implicará que as empresas e corporações terão mais poder que os Estados”.
“Isto é uma mudança ainda mais profunda que as troikas e tudo o que conhecemos até agora”, alertou.
“Política de migração lamentável que trata os imigrantes como criminosos”

“O que passa no Mediterrâneo é uma tragédia. É vergonhoso”, lamentou a dirigente do Bloco de Esquerda quando questionada sobre se a Europa “está fazer-se de surda e olha para outro lado quando se trata de resolver os problemas do Mediterrâneo”.
“A Europa tem uma política de migração lamentável que trata os imigrantes como criminosos”, frisou, avançando que “existe muito racismo generalizado na Europa”.

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