TV Globo 50 anos: a gente não se vê por aqui

 

Um dos slogans preferidos da TV Globo é: “Globo, a gente se vê por aqui”. Joaquim Barbosa concorda: “A Globo aproximou milhões de brasileiros a outros brasileiros, via língua, cultura, sotaques jamais antes imaginados”. Como quase tudo que vem da emissora do Jardim Botânico, o slogan é apenas mais uma mentira. Já a babação de Joaquim Barbosa, cujo filho, gentilmente, a Globo empregou, mostra apenas o quanto uma pessoa ambiciosa pode se rebaixar em seu puxa-saquismo aos poderosos.

A declaração de Joaquim Barbosa é tão irreal e mal construída que chega a ser incrível que ela parta de alguém que presidiu a suprema corte do país. O que ele quis dizer com “sotaques jamais antes imaginados”? A Globo ao contrário de mostrar a diversidade da produção cultural brasileira, pasteuriza a realidade e sufoca a verdadeira expressão da nacionalidade. Experimente perguntar a um jovem de São Paulo ou Rio, telespectador assíduo da TV Globo, se já ouviu falar na feira de Caruaru. Ou na Marujada. O que ele conhece são seriados e filmes estadunidenses e novelas que lembram o depoimento do saudoso jornalista Sérgio Porto. Conhecido também como Stanislaw Ponte Preta, Sérgio foi convidado, nos primórdios da TV, a escrever roteiros. Desistiu quando percebeu que os textos sofriam mudanças constantes sempre no sentido de piorá-los, até que ele disse a famosa frase a um diretor que insistia em novas mudanças: “Sinto muito, mas pior do que isso eu não sei fazer”. 

General Lee ou Bento Gonçalves?

Algum leitor duvida que para setores de nosso povo, que passam boa parte do seu tempo consumindo comunicação alienada e alienante, o general Lee possa ser mais conhecido do que Bento Gonçalves? Definitivamente, a Globo não é Ariano Suassuna (exceção), a Globo é Malhação (regra). Apesar de todo o seu poderio, da sua técnica desenvolvida e eficaz, capaz de produzir uma quantidade incrível de entretenimento (em geral de baixa qualidade) e de informação (em geral distorcida) pluralidade é um conceito que não existe para a emissora, nem em relação ao Brasil e muito menos à América Latina. Os povos da “pátria grande”, ao nosso lado, são verdadeiros desconhecidos da grande massa. A rica contribuição latino-americana à música, à dramaturgia, quase nunca aparece na grade de programação.

“Mãe do namorado de Lívian Aragão sofre ameaça de infarto”

No dia 21 de março de 2014 esta informação do subtítulo foi uma das manchetes dos sites G1 (Globo) e UOL (Folha). Ficamos tristes, na época, ao saber que a “mãe do namorado de Lívian Aragão” havia sofrido uma ameaça de infarto, da qual felizmente se recuperou. Salta aos olhos o incrível rebaixamento de uma mídia que parece apostar na estratégia de mergulhar cada vez mais o povo em um obscurantismo intelectual absurdo, que faz Laurindo Leal afirmar que a Globo é a responsável pelo não aprofundamento da democracia no Brasil. “Ela faz isso através de dois mecanismos. O primeiro é a questão cultural, mantendo a população alienada, afastada do processo político através de uma programação que faz com que as pessoas deixem de prestar atenção a aquilo que é essencial à vida delas enquanto cidadãs, distraindo com a superficialidade da programação. A Globo é responsável pela despolitização do brasileiro”.

Concentração midiática sufoca diversidade informativa e cultural

Para o professor Dênis de Moraes, “a diversidade informativa e cultural submerge em um cenário distorcido pela concentração monopólica dos meios de difusão e pela prevalência de intentos lucrativos e conveniências políticas sobre as aspirações coletivas”. O site Tijolaço divulgou uma campanha que a ONG Teto lançou intitulada “O problema não é o que vira notícia, mas o que deixa de ser” (fotos acima). Para a diretora executiva da ONG, Carolina Mattar, “a pobreza e a desigualdade social são problemas evidentes da nossa sociedade. Ainda assim, poucas vezes são pauta de notícias, poucas vezes surgem nas conversas cotidianas. Concorrendo com o grande destaque de notícias sobre o mundo das celebridades, quando a pobreza sim vira pauta, a forma como é comunicada afasta as pessoas da realidade emergencial que se repete cada dia na vida desses brasileiros”. Mas Joaquim Barbosa, afinal, precisa garantir o emprego do filhinho e talvez, como alerta o Brasil 247, pavimentar o caminho para sonhos mais ousados. No entanto uma coisa é certa, o povo, no que tem de mais verdadeiro e essencial, não se vê na Globo. Há 50 anos.

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