Trem da Alegria pronto para ser votado na Assembleia de SP: Mesa diretora cria 244 cargos sem concurso público

publicado em 28 de abril de 2015 às 11:57
Capez, Tatto e ChedidOs deputados estaduais Fernando Capez (PSDB), Enio Tatto (PT) e Edmir Chedid (DEM): Autores dos quatro projetos que criam 244 cargos sem concurso público na Alesp
por Conceição Lemes - no Viomundo
O governador do Estado de São Paulo está passando a tesoura em vários setores.
Geraldo Alckmin (PSDB) não deu um tostão de aumento aos professores da rede pública estadual. Cortou programas sociais. Fechou oficinais culturais. Propôs o  fechamento do Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal) e da Fundap (Fundação de Desenvolvimento Administrativo).

Enquanto isso, a mesa diretora da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) está prestes a promover uma verdadeira farra com o dinheiro do contribuinte.
Os seus integrantes — os deputados estaduais Fernando Capez (presidente, PSDB), Enio Tatto (1º secretário-PT) e Edmir Chedid  (2º secretário-DEM) – tiveram a iniciativa de propor quatro projetos de resolução, que preveem a criação de 244 cargos em comissão, com salários que variam entre R$ 4,8 mil a R$ 17,7 mil. Totalizam  gasto mensal de cerca de R$1,5 milhão, além dos encargos sociais.
Projetos de resolução equivalem a projetos de lei. A diferença é que não estão sujeitos a vetos do governador.
Os 244 cargos são de livre nomeação, sem concurso público. São os chamados de confiança. Não é à toa que já estão  sendo de novo trem de alegria da Alesp.
A tramitação demasiadamente apressada dos quatro projetos, sem quase discussão com as bancadas ou audiência pública, reforça essa suspeita.
Em 18 de abril, eles foram publicados no Diário Oficial do Legislativo:
Projeto de resolução 8/2015 — Cria 25 cargos para novas lideranças. Aparentemente, pela leitura, são para Capez, Tatto e Chedid. Mas direciona outros cargos ilegalmente para a presidência, 1ª Secretaria  e 2ª Secretaria. Além disso, dispõe sobre a criação de cargos em comissão no Quadro de Servidores da Assembleia Legislativa (QSAL)
Projeto de Resolução  9/2015 — Cria o Sistema de Avaliação de Desempenho da Administração Pública (SADAP) da Alesp, institui o Núcleo de Avaliação Estratégica (NAE) e disciplina a realização de audiências itinerantes. Estão previstos 151 cargos.
*Projeto de Resolução 10/2015 – Institui a Ouvidoria do Parlamento na Alesp. Cria 34 cargos.
Projeto de Resolução 11/2015 – Cria o gabinete da Corregedoria Parlamentar na Alesp. Somam 34 cargos.
Em 23 de abril, os quatro projetos tiveram aprovada a tramitação de urgência no plenário da Casa.
Em consequência, os parlamentares só tiveram um dia para apresentar emendas. O que feito na sexta-feira 24.
Nessa segunda-feira 27, o relator, o deputado Carlão Pignatari (PSDB), deu parecer favorável aos quatro projetos quanto aos aspectos constitucional, legal e jurídico.
As emendas previam que os cargos os cargos fossem preenchidos por concurso público ou por funcionários públicos efetivos da Alesp, que conta com  excelentes quadros técnicos subaproveitados.
Emendas 8 e 9-001emendas 10 e 11
“Esses projetos são, no mínimo, inoportunos, considerando os cortes que o governador está fazendo em áreas essenciais, como educação”, critica o deputado estadual João Paulo Rillo (PT).
“Há também um problema de conceito. A justificativa é de que esses projetos vão criar cargos para Ouvidoria e o Núcleo de Avaliação Estratégica. Avaliação estratégica de quê?”, questiona Rillo. “É para substituir deputados? O que então eu estou fazendo aqui?”
A suspeita – é o que se comenta nos corredores da Alesp — é que os cargos seriam um compromisso de campanha de Capez para garantir a eleição para o comando da Casa em março deste ano.
“Na sexta-feira, o Neder, o Professor Auriel, Márcia Lia e eu soltamos uma nota,  criticando os projetos, a falta de discussão e propondo emendas”, expõe Rillo.
“O Capez me ligou muito louco da vida. Disse que os cargos não seriam preenchidos por gente desqualificada e que o Núcleo de Avaliação Estratégica seria coordenado por um promotor de Justiça”, conta Rillo.
“Isso não me convence, só piora a situação”, prossegue Rillo. “O Capez quer substituir a legitimidade de um deputado eleito pelo voto da população por um promotor de Justiça aposentado. Não tem sentido!”
Esta repórter tentou falar com o deputado Fernando Capez. Foram várias tentativas por telefone para a secretária da Presidência da Alesp e para a sua assessoria de imprensa. Também enviou as perguntas por e-mail.
Segundo a sua assessoria, ele estava em um compromisso na Casa. Depois, foi para uma entrevista na Rede Vida.
Às 22h09min dessa segunda-feira, sua assessora de imprensa ligou e enviou torpedo, dizendo: “o pres quer falar com vc”.
Como naquele exato momento, eu estava no meio de uma entrevista, em outra linha, e não podia falar, respondi por torpedo. Pedi que ligasse em dez minutos. Fiz isso três vezes. Na última, disse que poderia me ligar em dez minutos ou que respondesse por e-mail. Nenhuma coisa nem outra.
Por cautela, como última tentativa, nessa terça-feira 28, contatei de novo a assessora de imprensa de Capez. Ficou de falar com a mesa diretora. Não retornou até às 12h, quando publicamos esta reportagem.
Detalhe: Os quatro projetos já estão prontos para serem votados no plenário da Alesp a partir de hoje.

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