Padilha: PT não pode subestimar a esquerda que está fora dos partidos políticos

Em evento da legenda, secretário da prefeitura paulistana diz que partido deve dialogar com todos os setores da esquerda, se quiser dar conta de construir uma agenda que dialogue com a sociedade'
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 17/04/2015 
PAULO PINTO/ANALÍTICA
Padilha
Para ex-ministro, Mais Médicos e vitória de Dilma em 2014 foram vitórias de todo o campo progressista
São Paulo – O PT precisa se aliar a forças progressistas da sociedade para "dar conta" de formular novas políticas e estratégias para o futuro. A opinião foi expressa pelo secretário de Relações Governamentais da prefeitura de São Paulo, Alexandre Padilha, na noite de ontem (16), durante o primeiro debate prévio para o 5° Congresso  Nacional do partido, na capital paulista.
"Não podemos subestimar a necessidade de o PT se juntar a outras forças de esquerda e progressistas para fazer debates de formulação de políticas ou ações de conjuntura. Para formular quais são os próximos avanços, nós do PT, sozinhos, sem dialogar com outras forças, não damos conta", afirmou. "Hoje existe uma 'esquerda social' no país que não participa de partidos políticos e sem a qual não vamos construir uma agenda contemporânea que dialogue com a sociedade", completou

Para Padilha, várias das "últimas grandes vitórias" sobre o campo conservador foram resultado da aliança com os setores progressistas desvinculados do PT e de quaisquer partidos. Entre essas vitórias, ele citou a implantação do programa Mais Médicos, o Marco Civil da Internet , a vitória de Dilma Rousseff no segundo turno da eleição de 2014 e "a vitória desta semana" –  adiar a votação do PL da Terceirização (4.330) no Congresso Nacional. "Todas foram construídas num fórum mais amplo que o PT. Não podemos subestimar isso se quisermos dar conta da agenda daqui para a frente."
O ex-ministro da Saúde disse ainda que nem mesmo as políticas estabelecidas a partir do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) foram construídas só pelo PT. "Desde que Lula assumiu a Presidência viemos formulando um projeto de desenvolvimento para o país e várias questões centrais, como a política externa, foram formuladas com a participação de quadros que não eram do PT e nem de nenhum partido. O debate sobre o pré-sal, questões de modelo de Estado, construímos com uma frente muito mais ampla do que o PT."
O secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo, Artur Henrique, disse à RBA acreditar que as mobilizações das centrais sindicais contra o PL 4.330 foram fundamentais para o projeto não ter sido aprovado esta semana. "As mobilizações, está claro, influíram no adiamento da votação. Cada vez mais as falas de juristas demonstram a preocupação com o fato de que o projeto pode acabar com os direitos dos trabalhadores."

Financiamento e Gilmar Mendes

Ainda no encontro do PT,  ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ressaltou a posição do partido sobre a urgência de uma reforma política que dê fim ao financiamento de campanhas políticas por empresas. "É a origem desses males", resumiu, referindo-se às denúncias de corrupção surgidas a partir da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF).
Carvalho criticou o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, por sua recusa em devolver ao plenário do STF a ação contra o financiamento privado de campanhas eleitorais, movida pelo OAB. Mendes pediu vista do processo há um ano, quando o julgamento estava 6 a 1 a favor do pedido de inconstitucionalidade.
"O financiamento empresarial de campanha se deu para todos os partidos. Fico impressionado com o cinismo do senhor Gilmar Mendes, de ficar sentado em cima de um processo no qual já está consagrada a maioria. Ele representa esse tipo de corrente da hipocrisia, que diz que só o dinheiro que a OAS deu para o PT é 'bichado'. O que deu para os outros (partidos), não."
Para Carvalho, a hostilidade contra o PT nas manifestações de rua promovidas pelos setores conservadores do país "é o resultado de um martelar muito bem feito pela mídia dominante contra o nosso partido e o nosso projeto. É natural que as pessoas, de tanto ouvir que nós somos ladrões, achem que somos ladrões."
Ele ressaltou a seletividade das denúncias contra o PT. "O dinheiro do financiamento das campanhas do PT vieram de corrupção e os outros foram de rifa, de festas de igreja", ironizou. "Todo mundo sabia que a reeleição de FHC custou muito dinheiro, mas ninguém falava nada porque não havia mecanismos de apuração."

Justiça parcial

Por fim, Gilberto Carvalho defendeu o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, preso pela PF na quarta-feira (15) e ressaltou que a prisão de Vaccari foi desnecessária e seletiva. "Ele tem endereço fixo, não se negou a prestar nenhum depoimento. Prestou depoimento à Polícia Federal, foi à CPI. Eu acho então que os tesoureiros de todos os partidos, deveriam ser chamados."
Em sua defesa, Carvalho disse ainda que "Vaccari é um companheiro que tinha uma função, isto é, entrar em contato com as empresas para pedir recursos. Se não fosse ele, seria o Edinho Silva, Rui Falcão, eu ou outra pessoa. Muitos (dos petistas) que pediram a saída dele foram beneficiados nas suas campanhas pelo dinheiro que ele arrecadou legitimamente. Eu confio no Vaccari."

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