Mercenários dos EUA lucram com fracasso da guerra às drogas no Afeganistão

A antiga empresa de mercenários Blackwater recebeu mais de 500 milhões de euros para ajudar a erradicar o cultivo de ópio no Afeganistão. Mas nunca houve tanto ópio cultivado como agora, reconhece a ONU.
Foto DVIDSHUB/Flickr
Depois de envolvida e acusada pela violência e assassinatos de civis no Iraque, a empresa de mercenários Blackwater mudou o nome para Xe em 2010 e depois para Academi. Uma investigação do jornal inglês Guardian revela que desde a invasão norte-americana do Afeganistão em 2002, a Blackwater/Xe/Academi recebeu cerca de 569 milhões de dólares (quase 530 milhões de euros ao câmbio atual) para dar apoio às tropas afegãs na luta contra o narcotráfico.

O cultivo de ópio é tradicional naquela região e o proibicionismo tornou-o um negócio apetecível em comparação às alternativas. Até agora, só o regime dos talibãs conseguiu reduzir, até 2001, a produção das papoilas que abastecem o mercado mundial de opiáceos. Após a intervenção norte-americana, o cultivo voltou a disparar e atingiu proporções nunca antes registadas no Afeganistão, segundo os dados recolhidos anualmente pelas Nações Unidas.
Os últimos anos têm visto um aumento considerável deste cultivo, com a ONU a estimar em dezembro de 2014 um crescimento de 60% (mais 209 mil hectares) em relação a 2011. Um negócio que representa 15% do PIB afegão e está avaliado em 2.8 mil milhões de euros.
Para além da ineficácia do apoio e treino à repressão do cultivo, uma investigação à aplicação dos fundos norte-americanos destinados ao Afeganistão também revelou que outras ajudas podem estar na origem do forte aumento deste cultivo. Apoios à reconstrução de estradas, sistemas de irrigação e outras ajudas à agricultura, como a tecnologia que permitiu transformar 200 mil hectares de terrenos desérticos em solos aráveis, terão contribuído para a maior produção de opiáceos de sempre no país. 

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