Mauricio Dias: O escorpião PMDB
Partido carrega toda uma longa tradição de traições e hoje transforma o PT em mero assessório
Ulysses Guimarães (à esquerda), a exceção do PMDB. Ao seu lado, Rômulo Almeida |
O governo Dilma está mergulhado nessa grande turbulência provocada pelos desajustes na economia e na política. Mas não é só. O grau do problema é ainda mais elevado pela gana da oposição de chegar ao poder a qualquer preço, nem que, para isso, incentive manifestações de rua com propostas antidemocráticas. E ainda não é tudo. Despontou no processo um suposto aliado, o insidioso PMDB, com o domínio do Senado e da Câmara.
O partido agora deu o bote. Com o controle do Congresso armou um nó político que só o próprio partido poderia desfazer. Assim, a solução foi convocar o peemedebista Michel Temer, vice-presidente da República. Quando se esperava um golpe externo, ele ocorreu internamente. Não veio da oposição. Nasceu nas entranhas da base política governista.
O Partido dos Trabalhadores será agora uma linha auxiliar. Ou “um acessório”, como disse o petista e ex-governador gaúcho Tarso Genro. Com o PT em processo de desmanche, o PMDB ganhou mais disposição de lançar um candidato à Presidência da República em 2018.
Eduardo Cunha pode ser uma opção guardada na manga. Já se fala mais abertamente, no entanto, no prefeito carioca, Eduardo Paes, com administração muito bem avaliada no Rio de Janeiro.
A busca do PMDB pelo poder máximo da República tem deixado um rastro na história política republicana nada edificante. O partido tem a natureza do escorpião. Pica aliados por mero oportunismo, como faz agora quando o governo e a presidenta se encontram em situação de fragilidade.
O PMDB com o “P” de partido imposto pelas regras da ditadura, abandonou a lealdade herdada do velho MDB de Ulysses Guimarães.
O jogo da traição começou em 1989, na primeira eleição direta para a Presidência da República. O pleito sucedeu à votação indireta de 1984, quando foram escolhidos pelo Congresso Tancredo Neves para presidente e José Sarney para vice.
Por trás disso havia a traição do partido. Foi sacrificada a indicação de Ulysses ao longo do acordo entre civis e militares no contexto da transição política “lenta e gradual”. Para tornar-se confiável à caserna, o PMDB engoliu a lei da anistia. O Doutor Ulysses nunca endossaria isso.
Ele ressurgiu como candidato presidencial na eleição de 1989. Na hora H, o PMDB o traiu de novo. Só a traição explica os 3,2 milhões de votos do candidato do PMDB. Cerca de míseros 4% dos eleitores na ocasião.
Fernando Collor ganhou a disputa. Recebeu os votos do PMDB para evitar o fantasma de Lula, o Sapo Barbudo.
Em 1998, o PMDB deu apoio informal a FHC. Na eleição seguinte, em 2002, o partido coligou-se oficialmente com José Serra, do PSDB. O escorpião picou o tucano em alguns estados e apoiou Lula, eleito em segundo turno.
Derrotados, os peemedebistas se compuseram com Lula e o apoiariam, para a reeleição, em 2006. O partido não teve forças para evitar o furacão Lula nessa eleição nem na seguinte, em 2010, com a vitória de Dilma. E, em 2014, como se sabe, deixou a companhia do PT em vários estados.
Em 2018, dificilmente, muito dificilmente, o PMDB apoiará o PT. Nem mesmo em caso de segundo turno, se disputar e perder no primeiro turno com nome próprio.
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