Levy debate ajuste fiscal por 8h no Senado, mas não convence parlamentares

A oposição de direita quer que o governo 'corte a própria carne', enquanto base e oposição de esquerda refutam a redução de direitos.

Najla Passos - na Carta Maior
Marcelo Camargo / Agência Brasil
As mais de 8 horas que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, passou na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Sendo, nesta terça (31), respondendo a toda sorte de perguntas sobre a situação financeira do país não foram suficientes para convencer os parlamentares da casa a aprovarem o conjunto de medidas iniciais que configuram o ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma Rousseff.  
 
O ministro procurou ser enfático ao alertar sobre a importância das medidas serem aprovadas com agilidade. Segundo ele, são vários os riscos que ainda ameaçam a economia brasileira. “As margens para equívocos diminuíram. Temos que ter muito cuidado para não aumentarmos as despesas do governo sem previsão de novas fontes de arrecadação. Isso é fundamental no médio prazo”, recomendou.

 
Ao final da maratona, porém, o resultado continuava desfavorável. A oposição de direita insistia que o governo precisa economizar “cortando a própria carne”, com ações que implicassem na redução do número de ministérios e de cargos comissionados. Já os senadores mais progressistas, sejam da base ou da oposição de esquerda, mantinham posição contrária às medidas que reduzem direitos trabalhistas. Para os últimos, a solução para o desequilíbrio das contas públicas é taxar os ricos, por meio do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF).
 
De forma clara, confiante e respeitosa, o ministro tentou argumentar que o ajuste fiscal proposto nada mais é do que a plataforma necessária para a retomada do crescimento. Segundo ele, cada ação impacta em uma reação futura que ajudarão o país a enfrentar a crise, preservando as conquistas sociais da última década.
 
“Este ajuste fiscal não toca em um centavo do programa Bolsa Família. É por isso que temos de cortar em outros pontos que não prejudiquem os direitos já conquistados”, justificou ele, ressaltando a necessidade do país manter sua política de ampliação do acesso ao ensino superior, por meio de programas como o Fies, que, contraditoriamente, também acaba de sofrer restrições de acesso.
 
Levy defendeu tanto o fim da desoneração da folha de pagamento de diferentes setores do setor produtivo quanto o corte de benefícios trabalhistas.  Conforme ele, as desonerações foram aprovadas em outro momento econômico: se, no ano passado, significaram uma renúncia fiscal de R$ 21,9 bilhões, este ano a perspectiva é que atinjam R$ 25 bilhões, caso as medidas de ajuste não forem aprovadas. “Não há sentido de prosseguir com as renúncias. A motivação original delas desapareceu”, afirmou.
 
O ministro também defendeu os polêmicos cortes de direitos trabalhistas que ameaçam não conquistar apoio nem mesmo da bancada do próprio PT. Mas, ao contrário do discurso utilizado pelo governo de que os cortes em benefícios, como o do seguro desemprego, são necessários para corrigir distorções, Levy afirmou que as medidas foram adotadas para aumentar a produtividade das empresas. “Diminuir a rotatividade de trabalhadores aumenta a produtividade das empresas, que podem investir mais na qualificação dos seus profissionais”, afirmou.
 
Revés discursivo
 
De forma geral, o discurso do ministro muito pouco dialogou com os valores da esquerda, incluindo aí a base social do próprio PT, que contempla seus parlamentares. Questionado diversas vezes sobre a piada internacional feita com sua afirmação de que “a presidente Dilma quer endireitar as coisas”, ele pareceu não perceber a acepção ideológica da frase que virou manchete internacional. “Eu acho que esse é o trabalho de todo servidor público. Acho que todos eles querem endireitar as coisas”, reafirmou.
 
A senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra da Casa Civil da primeira gestão do governo Dilma, tentou socorrê-lo com sua experiência. Enfatizou que a crise é causada por fatores externos ao governo e que o Brasil mais baixou impostos do que aumentou despesas. Elencou todas as conquistas sociais da última década, incluindo as econômicas. E o fez com total conforto em relação ao discurso que o atual ministro da Fazenda teima em desconhecer.
 
Mas enquanto desagradava a esquerda, o estilo discursivo de Levy ganhava corações e mentes da oposição de direita. Ele foi aclamado por seus méritos individuais pela quase integralidade das dezenas de senadores que usaram a palavra, inclusive para fazer perguntas que visavam exclusivamente colocá-lo na mais perfeita saia justa. “Vossa Excelência não tem medo de macular sua biografia ao se associar a um governo tão desastroso?”, questionou o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO).
 
“O ministro Joaquim Levy merece nosso respeito pelo esforço que vem fazendo. A grande questão que ainda não está clara para nós brasileiros, em especial para nós da oposição, é se as convicções do ministro Joaquim Levy são realmente as convicções do governo federal. Não são certamente de parte expressiva da base de sustentação do governo federal, que não cansa de se manifestar contrariamente a várias dessas medidas”, acrescentou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado à presidência na última eleição.
 








Créditos da foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

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