Fernando Brito: O “bode elétrico” do Dr. Joaquim Levy

8 de abril de 2015 | 12:02 Autor: Fernando Brito
bode
Do relatório do IBGE sobre a inflação de março:
“Mais da metade do índice de março ficou na conta da energia elétrica, cujo aumento médio de 22,08% gerou 0,71 ponto percentual (p.p.) de impacto, o mais expressivo do mês, que representou 53,79% do IPCA. Com a entrada em vigor, a partir de 02 de março, da revisão das tarifas aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) ocorreram aumentos extras, fora do reajuste anual, para cobrir custos das concessionárias com a compra de energia. Na mesma data, houve reajuste de 83,33% sobre o valor da bandeira tarifária vigente, a vermelha, passando de R$ 3,00 para R$ 5,50.”
Realismo tarifário, apenas?

Chamem o mais selvagem neoliberal para administrar a economia e ele não deixará de administrar a gradualidade das correções tarifárias, a menos que…
A menos que queira, com o choque – neste caso, elétrico – desencadear outras reações na economia.
Uma, claro, é evidente: a redução do consumo de forma a espantar de ver o fantasma do racionamento em razão do regime de chuvas dramaticamente baixo até fevereiro passado.
A outra, perigosa mas antiga, é o “bode na sala”.
Para quem não conhece, põe-se um bode na sala e todos reclamam do fedor.
Aí, tira-se o bode e a sensação é de alívio e há até quem ache a sala perfumada.
Não deveria surpreender ninguém, pois no final de dezembro, já com Levy no comando do planejamento econômico, o próprio BC já anunciava:
“A inflação acumulada em 12 meses vai atingir seu pico no primeiro trimestre de 2015, segundo o Banco Central, e iniciará um longo período de declínio a partir do segundo trimestre do próximo ano.”
Como naquela folclórica história da conversa entre Garrincha e o técnico Vicente Feola, sobre seus planos para enfrentar a seleção da extinta URSS, o problema é “combinar com os russos”.
O porque os aumentos de preço trazem sempre algum “carry-over”, sua transmissão, pela expectativa de inflação, para novas elevações.
E isso só não acontece com quedas de consumo, como as que estão sendo registradas uma após outras.
Quem gosta de recessão para “arrumar a casa” não pode reclamar, portanto, que ela doa. Dói.
O deus Mercado exige sacrifícios em seu altar.
E não é do capital.

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