Fernando Brito: Dr. Levy, tem um pedação de Brasil que não precisa de arrocho, precisa de incentivo

Autor: Fernando Brito
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O Doutor Joaquim Levy, na dura ginástica que tem de fazer para cortar despesas e subsídios sem detonar o processo de crescimento da economia – vamos fazer de conta que não é a turma dos juros que gosta da primeira parte e detesta a segunda – bem que poderia pegar, de graça, uma pesquisa que a agência de publicidade Artplan e a Ideia Consumer Insigths fizeram e disponibilizaram na Internet e conversar com a Presidenta Dilma Roussef.
A pesquisa não trata, Dr. Levy, do Brasil que sai no jornal.

Trata de 95% dos municípios brasileiros, que têm menos de 100 mil habitantes, que abrigam 45%da população brasileira e  respondem por 30% do PIB nacional.
São cidades cheias de problemas, sim, mas todos “baratinhos”: 500 casas populares mudam a questão habitacional, uma estradinha modesta resolve os problemas de transporte de pessoas e da produção e, sobretudo, investimentos mínimos, daqueles que podem ser feitos pela iniciativa privada, sem inversão pesada de recursos públicos (vai ver se sai metrô ou BRT  nas cidades grandes se a União não pagar a conta, Dr. Levy).
E a pesquisa mostra que o pessoal de lá não quer ir embora, para lotar mais os centros urbanos.
Quer estudar e poder fazer as coisas por lá.
Mas não tem como, nem para “bater perna” no shopping, porque shopping só tem em 3% destas cidades. Ou ir ao cinema, que só tem em 7% delas.
A televisão, a internet e a elevação da renda colocaram estas pessoas de frente para a vitrine do mundo do consumo, mas a oferta real é pequena e mesquinha.
Diz a professora Carmem Pires Migueles , da FGV, na pesquisa: “Quando eu reclamo que eu não tenho é porque eu já acho que tenho o direito de ter. há Algum tempo atrás as pessoas não formulariam essa demanda porque simplesmente era algo que escapava o seu direito.”
E eles, portanto, passaram, na última década, a se achar com o direito.
O pouco de comércio que há não dá conta de ter variedade, qualidade e nem sequer preço.
A mão do Estado, lá, muda muito fazendo pouca força.
Crédito para construção de centros de compra pequenos e  médios, Correios otimizando a sua presença (já existente) como canal de logística dando suporte a eles, direcionamento do Fies, desonerações tributárias parciais (aí, sim) para estabelecimentos comerciais e industriais que não possam ser enquadrados no Simples – não dê para os de serviços, não, que é falcatrua, pois os grandes não funcionam por lá – fixados em cidades de pequeno porte.
Mande chamar o BNDES, o Ministério do Desenvolvimento, a Previdência, a Caixa, o MEC, a Receita, o Ministério das Comunicações (porque telefonia e internet são essenciais para negócios), o Afif, da Secretaria da Microempresa,  e lhes diga: olha, vocês têm 60 dias para apresentarem um plano cada um para atender estas cidades de forma diferenciada e com baixo custo.  Negocie com os governadores um percentual do que eles tiverem a receber de atrasados do recálculo da dívida para este programa que, afinal, vai representar mais receita para eles. E depois o seu parceiro do Planejamento, Nélson Barbosa, sistematiza aquilo que vier.
Peça para a Presidenta chamar para conversar com o senhor a Dona Luiza Trajano – aquela do Magazine Luiza, que deu um fora no Diogo Mainardi – e diga a ela para vir com um projeto do Instituto de Desenvolvimento do Varejo para franquear, sem enforcar, nestas cidades.
Garanto que o senhor vai encontrar menos choradeira e mais vontade de investir do que em onze de de cada dez reuniões que se faz aí na Fazenda com gente da Fiesp e representantes do setor empresarial.
Sabe porque, Dr, Levy? Porque o capitalismo brasileiro funciona – e do jeito que sabemos – com 30 ou 40% dos nossos 203 milhões de compatriotas.
A elite brasileira não é boa em ganhar dinheiro na quantidade. Ela é boa, mesmo, em excluir.
Assista o vídeo da pesquisa, cuja apresentação está aqui para quem quiser baixar.

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