Concentração de renda: o percurso do ônibus 80

Em 2010, era preciso juntar os 388 bilionários mais ricos para alcançar o valor detido por 50% da população mundial, agora bastam 80 para fazer a festa.

Francisco Louçã - na Carta Maior
Duncan Harris / Flickr
Nas vésperas da “conferência” de Davos, a Oxfam publicou o seu relatório sobre a riqueza no mundo. A conclusão foi citada pela imprensa internacional: se, em 2010, era preciso juntar a nata dos 388 bilionários mais ricos para alcançar o valor detido por 50% da população mundial, os mais pobres, agora bastam 80 para fazer a festa.

O Guardian, com base em dados da Oxfam e da Forbes, estudou a evolução desta comparaçãoe demonstrou que houve uns tempos perturbados, depois do crash de 2007, mas as coisas voltaram logo ao normal e atinge-se agora um nível de concentração de riqueza que era desconhecido até agora. Como disse a senhora Lagarde, diretora do FMI, no ano passado, os detentores de um riqueza equivalente a metade do mundo cabiam num ônibus de Londres.



O Economist questionou estes cálculos. No segundo gráfico, à esquerda, está a indicação da revista (desta vez a partir da Oxfam e do Crédit Suisse) da comparação entre os 1% de cima e os 99% de baixo – quase ninguém contra quase todos. E indica-se a tendência de evolução. A partir deste ano e do próximo, os poucos que são muito ricos passarão a ter mais do que os 99% que têm pouco. No entanto, com o gráfico da direita, a Economist deita água na fervura: ele regista, segundo o acadêmico Branko Milanovic, quanto ganhou cada decil da população mundial entre 1998 e 2008. De fato, nestes cálculos, os de cima (os que estão na parte direita, próximo do valor 100 da escala horizontal) ganharam mais 60%, enquanto os mais pobres, os que estão próximo de zero, ficaram com mais 20% do que tinham. Mas os “médios” aumentaram o seu pecúlio e também beneficiaram da década – a conclusão de Milanovic é que não foram só os milionários que beneficiaram do presente aos ricos.
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Só que estes dados mal consideram o que se passou desde a crise financeira (só vão até 2008), o desemprego dos trabalhadores qualificados e jovens, a austeridade e as transferências de rendimento com a valorização dos mercados financeiros. Portanto, voltamos ao mesmo.

No ônibus 80, nas mãos dos poucos que são os mais ricos, cabe o valor da “riqueza” equivalente ao que está no bolso de metade da população do mundo, de mais de três bilhões de pessoas. A continuar esta tendência sem freio, um dia bastará uma limusine para levar os donos de metade da riqueza do mundo.




Créditos da foto: Duncan Harris / Flickr

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