Vítimas contam suas histórias a partir de fotos feitas pelo regime militar

'Retratos de Identificação' entrevista sobreviventes da ditadura ao se depararem pela primeira vez com fotos suas tiradas por agentes militares. Exibição será nesta sexta-feira (20) no Sesc Consolação

por Xandra Stefanel, especial para RBA publicado 20/03/2015 

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Espinosa, na época comandante da VAR-Palmares, relembra como foi sua prisão ao lado de Dora e de Chael

A professora e pesquisadora Anita Leandro vasculhou durante quatro anos um acervo macabro para reconstruir histórias que não podem nem devem ser esquecidas. Construído a partir de fotografias e documentos encontrados no acervo das agências de repressão da ditadura, o longa-metragem Retratos de Identificaçãoresgata doloridas memórias de quatro vítimas do regime autoritário. Apenas duas delas, vivas. O filme, em pré-estreia nacional, será exibido nesta sexta-feira (20), às 19h30, na Mostra Tiradentes do Sesc Consolação, em São Paulo.

Intercaladas por depoimentos recentes e de arquivo, Anita Leandro apresenta fotos das vítimas, registradas pelo regime em diferentes situações: investigações, atos de prisão, tortura, exames de corpo de delito, processos de banimento, inquéritos e necrópsias. Esses retratos de identificação policial, feitos com o objetivo de controlar os prisioneiros, voltam à tona no filme como provas irrefutáveis dos crimes cometidos pelas Forças Armadas e pela Polícia Civil.

No longa de 71 minutos, Antônio Roberto Espinosa e Reinaldo Guarany se deparam pela primeira vez com suas próprias fotos feitas por agentes da ditadura e relembram as situações em que foram presos, como foram barbaramente torturados e o que aconteceu em suas vidas depois que foram libertados.

Espinosa, que na época era comandante da organização Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), relembra como foi sua prisão ao lado de Maria Auxiliadora Lara Barcellos, conhecida pelo pseudônimo Dora, e de Chael Schreier, a quem viu ser morto. Guarany, então do grupo tático armado da Ação Libertadora Nacional (ALN), conta as lembranças sobre sua saída do Brasil, feita em troca da vida do embaixador suíço Giovanni Bucher: a difícil vida no exílio, a instabilidade a que estava exposto e o suicídio de Dora são alguns dos episódios que suas fotos e seu relato trazem à tona.

Enquanto a direita saudosa dos anos de chumbo ergue cartazes pela volta dos militares ao poder, o filme de Anita relembra as atrocidades e os estragos irreparáveis que a ditadura trouxe à sociedade brasileira. É uma espécie de tapa na cara daqueles que querem esquecer o que realmente se passou durante este período nebuloso da nossa história. Trata-se de mais uma importante obra que reforça que histórias como as de Dora, Chael, Reinado e de Espinosa não podem ser esquecidas para que esta nefasta experiência nunca mais se repita.

Após a exibição de Retratos de Identificação, nesta sexta-feira, haverá debate com a presença da diretora Anita Leandro e convidados. Para saber datas e locais de outras exibições, acompanhe a página do filme no Facebook.

trecho do filme Retratos de Identificaçao from IsabelCastro | GuilhermeHoffmann onVimeo.

Retratos de IdentificaçãoQuando: sexta-feira, dia 20 de março, às 19h30
Onde: Sesc Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo (SP)
Quanto: grátis
Mais informações: (11) 3234-3000

Ficha Técnica
Realização: Anita Leandro, UFRJ, Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (Projeto Marcas da Memória)
Direção: Anita Leandro
Imagem: Marcelo Brito
Som direto: Alexandre Nascimento
Edição e tratamento das fotografias: Marta Leandro
Montagem: Anita Leandro
Corte final: Joana Collier e Isabel Castro
Videografismo: Guilherme Hoffmann
Criação sonora e mixagem: Edson Secco
Produção: Anita Leandro
Produção de finalização: Amanda Moleta e Pojó Filmes
Assistente de produção: Maíra Bosi
Finalização: Link Digital
Gênero: documentário
País: Brasil
Duração: 71min
Ano: 2014