SP: incidência da dengue é maior nos bairros que mais sofrem com a falta de água
Distritos da zona norte, como Brasilândia, Jaraguá, Limão, Pirituba e Cachoeirinha, os mais afetados, são abastecidos pelo Sistema Cantareira; população recorre a baldes e caixas de água adicionais
por Cida de Oliveira - na RBS
SECRETARIA DE SAÚDE/PMSP
Larva de 'Aedes' em caixa d'água na zona norte da capital; com cortes da Sabesp, população recorre a estoques extras e aumenta o risco
São Paulo – Os moradores da zona norte da capital paulista, que já sofrem com os cortes de fornecimento de água pela Sabesp, que chegam a durar dias, são também os mais expostos aos riscos de contrair dengue. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde divulgados na tarde de hoje (12), a região responde por 45% dos 7.501 casos, dos quais 1.833 foram confirmados como autóctones – contraídos no município. São 976 os casos confirmados nessa região.
Os dados são da oitava semana epidemiológica de 2015, correspondente ao período entre os dias 4 de janeiro e 28 de fevereiro. O número de casos em toda a cidade é quase três vezes maior que o do mesmo período de 2014, quando a cidade teve 2.581 casos notificados e, desses, 613 autóctones confirmados.
O maior número de registros (264) é do distrito da Brasilândia, localidade onde residia a primeira vítima fatal da doença. No final de janeiro, uma senhora de 84 deu entrada no hospital Metropolitano, da rede privada, na região da Lapa, onde morreu. Exames comprovaram a dengue como causa. Outra duas mortes suspeitas estão sendo investigadas.
Na sequência, vêm os distritos do Jaraguá (191), Limão (104), Pirituba (102), Cachoeirinha (73) e Freguesia do Ó, também na zona norte (35).
Outras regiões
A segunda região com mais casos de dengue é a sul. Seus distritos registraram 326 casos. Os da sudoeste correspondem a 245; da leste, 184; oeste, 101, e o centro tem apenas um caso.
Os números são três vezes maiores do que em 2014, quando a capital registrou 28.990 casos autóctones (97,7% ocorreram no primeiro semestre), com 14 óbitos ao longo do ano. Em 2015, a estimativa da Secretaria Municipal de Saúde, baseada no coeficiente de incidência das primeiras oito semanas e na taxa de positividade dos exames feitos no laboratório municipal, é que o número pode ser até três vezes maior.
Outro dado da Secretaria de Saúde que reforça a ligação entre a crise no abastecimento de água e o aumento nos casos de dengue é a pesquisa sobre criadouros do mosquito transmissor. Um levantamento específico, chamado Avaliação de Densidade Larvária (ADL) aponta um aumento de 212,7% no número de baldes e de 135,3% de reservatórios não ligados à rede, como caixas d’água.
"Os pratinhos de plantas ainda são focos importantes para a oclusão dos ovos e proliferação do mosquito, mas constatamos, em visitas à zona norte, muitas casas com caixas de água adicionais", disse o secretário-adjunto de Saúde, Paulo Puccini, que destacou a necessidade de intensificar a orientação a essa população que já sofre sem água.
Os dados, que comparam os períodos entre outubro de 2014 e fevereiro deste ano, são compatíveis com o aumento da densidade larvária ou o volume de larvas encontradas, que saltou da taxa de 0,24 para 1,01 domicílios com larvas dentro de cem pesquisados.
Por esse motivo, a prefeitura reforçou o trabalho dos 2.500 agentes de zoonoses em toda a cidade, com ações de visitas porta a porta, grupos de orientação e ações de combate nos locais de grande concentração de pessoas, como nebulização para combate aos mosquitos (fumacê) e recolhimento de bagulhos, entre outras.
De acordo com Puccini, como o Aedes circula livre, os municípios ficam suscetíveis apesar das ações. Por isso, o combate e prevenção depende também de ações no âmbito metropolitano, o que caberia à Secretaria Estadual de Saúde.
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