Portugal: Um Presidente que vende o país

Cavaco não é um avozinho desajeitado. É um político ultra conservador, completamente colado à agenda agressiva do governo.
  1. Aníbal Cavaco Silva
    Presidente da República Portuguesa

Alguma elite política, entrando bem no PS, considera-o um exemplar em vias de extinção da velha e boa social-democracia, em certa medida um keynesiano amigo do investimento público e de um papel redistributivo do Estado… Mas Cavaco fez sempre o possível por se identificar com o espírito de Thatcher, Reagan ou Merkel e só não vê quem não se importa ou quem se quer iludir na patranha centrista.

Vender o país como bacia de mão-de-obra flexível significa, de uma assentada, proclamar a precarização e a balcanização do mercado de trabalho, sob a égide de uma mobilidade selvagem e desestruturante, que encontra no pico da atual emigração uma evidência feroz. Flexível é o trabalho a tempo parcial, intermitente, por projeto, deslocalizado. Flexível é a domesticação dos trabalhadores, pela sua fragmentação e pela própria destruição da ideia de contrato e de percurso profissional. Flexíveis são as vidas de futuros incertos e perpetuamente adiados.
Cavaco só tem olhos para o negócio e a “competitividade”. No seu tempo de primeiro-ministro foi o fartar vilanagem do lucro fácil de um capitalismo de ocasião, embrutecido pela fonte dos fundos comunitários. Agora, como presidente, promove o país barato, o destino turístico apetecível, bem consciente da sua missão subalterna e periférica.
Pelo meio, as ligações nunca esclarecidas com o BPN e o universo BES.
E o ridículo, o imenso ridículo, com que pauta as suas intervenções, símbolo pleno da decadência das elites que nos (des)governam.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, sociólogo, professor uni

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