Petistas cobram que Aécio seja investigado pela Lava Jato

Segundo eles, o depoimento de Yousseff apresenta mais um forte indício de que o tucano integrou o propinoduto da chamada 'Lista de Furnas.'

Najla Passos
 George Gianni / PSDB
Deputados das bancadas federal e estadual do PT de Minas Gerais foram à Procuradoria Geral da República, nesta quinta (19), cobrar a abertura imediata de investigação sobre o envolvimento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ex-candidato à presidência da república, no esquema de propinas desvendado pela Operação Lava Jato.

Embora o procurador geral da República, Rodrigo Janot, tenha retirado o nome do senador da  lista dos denunciados, alegando que não havia indícios suficientes contra ele, os petistas contra-argumentam que, após o vazamento do conteúdo do depoimento em que o doleiro Albert Yousseff, em regime de delação premiada, acusa textualmente o tucano de recebimento de propinas, não há mais como as autoridades se esquivarem da tarefa.   



“O depoimento do doleiro confirma as denúncias contra o Aécio que já vínhamos fazendo desde a divulgação da polêmica ‘Lista de Furnas’. Além disso, reitera a veracidade da denuncia feita pela procuradora federal Andreia Bayão, que comprovou a prática de caixa dois na estatal Furnas Centrais Elétricas, através das investigações das empresas Bauruenze e Semp Toshiba”, afirma o deputado estadual do PT em Minas, Rogério Correia.
De acordo com ele, a comitiva, que também contou com a participação dos deputados federais Adelmo Leão e Padre João, não foi recebida pelo procurador-geral, como reivindicavam, mas pelo procurador federal Peterson Paulo Pereira, secretário de Relações Institucionais da Procuradoria Geral da República.
“Nós tivemos uma conversa longa com o procurador, na qual explicamos como as denúncias de Yousseff se conectam com as da Lista de Furnas e com as investigações já realizadas pela colega dele, a procuradora federal Andreia Bayão. Não há mais como dizer que não pesam indícios fortíssimos sobre o senador Aécio Neves”, afirmou.
A Lista de Furnas apresenta 151 nomes de políticos de vários partidos indicados como recebedores do esquema de propinas que envolvia a estatal, criado para financiar a campanha política de 2002. Á época, o esquema foi confirmado tanto pelos executivos da Semp Toshiba, uma das financiadoras, quanto pelo ex-deputado Roberto Jefferson, tido como um dos recebedores e o delator do mensalão.
A princípio, a Lista de Furnas foi classificada como montagem pelos envolvidos, inclusive pelo o senador Aécio Neves. A Polícia Federal, porém, reconheceu sua autenticidade e o Ministério Público chegou a denunciar 11 pessoas, entre funcionários da estatal e executivos, por participação no esquema. O processo, no entanto, encontra-se engavetado nas instâncias do órgão e não foi usado por Janot como complementar à sua análise da Operação Lava Jato.
Mais recentemente, no seu depoimento à Justiça, o doleiro Albert Yousseff reiterou que o PP dividia com o PSDB a responsabilidade pelo recebimento das propinas oriundas da estatal, algo em torno de US$ 100 mil mensais, pagos entre 1996 e 2001. E disse ainda que a operadora do propinoduto tucano era a irmã do senador Aécio, Andreia Neves. Aécio Neves sempre negou envolvimento no escândalo, tratado como secundário pela imprensa comercial, que pouco ou nada falou sobre ele.
Em Minas Gerais, o único jornalista que divulgou a denúncia, Marco Aurélio Carone, do Novo Jornal, foi preso sob as acusações de calúnia, injúria e difamação. Passou quase um ano na cadeia, onde chegou a sofrer um enfarte, até ser liberado no final do ano passado, mas só após o período eleitoral. O delator do esquema, Nilton Monteiro, também ficou preso por quase dois anos, acusado de falsificar a lista reconhecida depois como autêntica.  
Correia, que quase perdeu seu mandato de deputado por Minas Gerais por denunciar a Lista de Furnas, acredita que a comprovação da autenticidade do documento pela Polícia Federal revelou que ele não estava mentindo e nem armando uma cilada para o PSDB, como acusaram seus adversários políticos. Agora, a confirmação de Yousseff de que a estatal era parte do esquema de propina atesta também a finalidade para que servia.

“Os mineiros sabem que o caixa dois de Furnas existiu. O atual prefeito de Pará de Minas, Antônio Júlio, que foi presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, disse na tribuna da casa que recebeu recursos de caixa dois. O ex-deputado Roberto Jefferson confessou que recebeu propina de Furnas. A procuradora Andréia Bayão fiscalizou a Bauruense e apresentou denuncia contra a estatal. Tudo isso são fortes indícios contra Aécio”, defendeu o deputado em pronunciamento na Assembleia de Minas.  


Créditos da foto: George Gianni / PSDB

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