O Globo condena pressão da mídia por reforma ministerial

  

Editorial de O Globo, publicado em primeira página, condena a pressão da imprensa sobre o governo para forçar uma reforma ministerial. Com a palavra o jornal da famiglia Marinho: “(quando) alguns jornais começaram a fazer a reforma ministerial por conta própria, não pudemos deixar de estranhar, admirando-nos de que ainda existisse quem achasse ser possível compelir o Chefe de Governo a substituir os seus principais auxiliares pelos boatos da imprensa”. 


Seria mesmo surpreendente se este editorial não fosse de 06 de março de 1965 e o presidente o ditador golpista Castelo Branco. O mesmo jornal que hoje enche de qualificativos negativos uma mulher, eleita presidenta democraticamente, perante ao “marechal” era de uma subserviência e, falando em linguagem clara, de um puxa-saquismo abjeto. No editorial desta edição de 1965, Roberto Marinho quer meter o bedelho na reforma ministerial do ditador, defendendo a permanência da dupla responsável pela política econômica do marechal golpista, formada por Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, mas vejam a quantidade de pedidos de desculpas e salamaleques.

Prova da “coragem” de Roberto Marinho

Depois de condenar a “pressão da imprensa” continua o editorial: “Dizíamos então que no dia em que o Marechal Castelo Branco, pelas razões de ordem pública que julgasse valiosas ou por outro motivo qualquer, resolvesse mudar os titulares de determinadas pastas, chamaria os ministros a substituir, comunicar-lhes-ia lisa e claramente a sua decisão e lhes agradeceria o serviço prestado, tudo com a dignidade que sua S. Ex.ª empresta a todas a suas atitudes”. Finalmente, o falecido proprietário do sistema Globo, Roberto Marinho, depois de nada menos do que nove longos parágrafos e centenas de linhas repletas do mais puro e repulsivo servilismo, capaz de envergonhar um capacho, toma coragem e entra no assunto: “Nem será preciso advertir o presidente de que cometeria erro irremediável se afastasse os gestores das pastas diretamente relacionadas com a recuperação econômico-financeira”.

Desculpe pela ousadia

Assustado com a própria ousadia, o jornal que é valente na democracia e cúmplice nas ditaduras, apressa-se a reafirmar seu capachismo: “Estes comentários, que se inspiram na necessidade de manter os leitores informados sobre os acontecimentos e perspectivas políticas, de modo algum devem ser interpretados como um reforço a qualquer campanha visando à mudança de ministros (...) sendo o presidente da República o responsável pela administração pública, posição a que Sua Excelência não renuncia por meio minuto que seja”. E mais uma vez garante, como se já não estivesse suficientemente claro, que é “um jornal identificado com a Revolução e seus ideais”. Sem dúvida que atitudes deste tipo, que causam náuseas em qualquer um que se mereça o nome de democrata, foram muito lucrativas para o grupo Globo e, portanto, existem pessoas que as justificam e as relativizam, a soldo, algumas vezes generoso, dos ricos herdeiros do "corajoso" Roberto Marinho. Gente que acha que dignidade tem preço, e enche a boca para falar de ética.


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