Luis Nassif: Dilma e o paradoxo da radicalização

TER, 17/03/2015 - 13:19





O quadro político atual é o seguinte.
Há uma polarização cada vez maior na opinião pública, entre esquerda e direita disputando as ruas e redes sociais.
Com a ajuda indispensável dos grupos de mídia, a direita ganhou a classe média, especialmente devido aos ecos da Lava Jato. A esquerda - teoricamente base de apoio do governo Dilma - se sente rifada tanto por Dilma quanto pelo PT e começa se aglutinar por fora.

Está-se a um passo de uma radicalização irreversível.
Dilma não entra em dividida ideológica - e isto não é ruim. Foge de qualquer forma de radicalização - e isto é bom. Poderia pairar acima das paixões e ser o fator de conciliação do governo com o país. Mas nada faz. E essa apatia aumenta o atrevimento da direita e o ceticismo e a reação da esquerda.
Sem a coordenação da presidente, a disputa se dará nas ruas e nas redes sociais, campo fértil para a ampliação da radicalização.
Um dos maiores fatores de desgaste de Dilma Rousseff tem sido a maneira como responde a momentos de crítica intensa. Promete abertura no seu governo, concede entrevistas, recebe recalcitrantes e dá a missão por encerrado.
Na rodada seguinte, o desgaste é maior ainda, porque somado à sensação de ter sido enganado na rodada anterior.
Ontem, novamente a presidente prometeu diálogo. Não basta. Ouvir não é um exercício que se resuma a algumas audiências, com a presidente bocejando de impaciência na frente dos interlocutores.
Significa azeitar os canais já existentes, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) às câmaras da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), os conselhos em torno da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), o modelo de acompanhamento proposto na Política Nacional de Participação Social.
Dilma pisa em ovos com receio de alinhamentos ideológicos. Essa pauta não é excludente nem ideológica. É uma forma de mudar o estilo de governo e trazer a disputa para dentro, organizada, negociada, acolhendo as demandas de todos os setores.
A direita quer o fígado de Dilma. Ela está a um passo de perder a esquerda.
Seu governo chegou ao paradoxo da radicalização.
Ela nada faz, para não estimular a radicalização. Mas a radicalização virá fulminante se ela nada fizer.

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