Luis Nassif: Como os vazamentos envenenaram a Lava Jato
QUI, 05/03/2015 - 20:31
O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, orgulha-se do seu estado maior. De fato, trouxe os melhores quadros do Ministério Público Federal para assessorá-lo em questões constitucionais, penais, de direitos humanos. Para cada tema, há um conselho de alto nível formulando uma política de Ministério Público, não do PGR. Como seu sub, indicou a segunda mais votada na lista, a procuradora Ela Wiecko, uma unanimidade no mundo jurídico.
Hoje em dia, o MPF e a PGR tornaram-se instituições políticas – no sentido de que sua atuação transcende os autos e interfere diretamente no jogo político do país.
Por tudo isso, não se entende qual a estratégia de comunicação do PGR, ainda mais levando-se em conta que a Lava Jato é a operação de maior repercussão da sua história.
Em nota distribuída na rede dos procuradores – e divulgada pela mídia – Janot pede coesão contra as pressões que virão por conta das suas denúncias.
A maior defesa de um procurador é sua isenção, a constatação de que pau que bate em Chico bate também em Francisco. Os vazamentos seletivos da Lava Jato foram veneno na veia das investigações. Foram cometidos crimes à luz do dia, tendo como suspeitos um universo restrito e facilmente identificável: delegados, procuradores, juiz e advogado de Alberto Yousseff. Quem não cometeu crime, prevaricou: por não denunciar os autores. E a parceria foi com a revista que atuava em parceria com organizações criminosas e que ajudou a destruir a Satiagraha.
Janot se comportava como se nada tivesse a ver com o episódio, como se os vazamentos não afetassem a imagem do MPF como um todo. Não havia um consultor, um conselheiro para alertá-lo sobre os desdobramentos desses vazamentos?
Com as primeiras informações divulgadas, constata-se que havia mais declarações contra Aécio (mesmo Janot considerando-as insuficientes) do que contra Dilma – praticamente inexistentes. No entanto, uma falsa denúncia quase decide uma eleição presidencial.
Por mais isenta que seja a postura do PGR, nas denúncias encaminhadas ao STF – ou arquivadas - agora, paira sobre ele a sombra da suspeita. E não adianta a atitude defensiva da comunicação do PGR, de atribuir todas as críticas a interesses contrariados. Janot precisa de um conselho de comunicação à altura dos demais conselhos.
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