Fernando Brito: A diferença, por Deus, a diferença!

Autor: Fernando Brito
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Ontem à noite, vi no Facebook, a mensagem de meu velho e sábio professor Nilson Lage, há 79 anos vendo a história passar sob os olhos.
“De Delenda Cartago a Pão, Paz e Liberdade, movimentos de massa supõem objetivos concretos e abrangentes. “Em defesa da Petrobrás”.e “Abaixo a corrupção” não me parecem ser o caso.”
Ruminei, ruminei e, mesmo sob o impacto surpreendente das manifestações de hoje, acho que ele tem razão.

É preciso estabelecer um foco naquilo que desejamos e que é, afinal, a fonte de tudo o que estamos passando, já que é preciso praticar a “realpolitik” eleitoral, tal como a que ela é hoje: dinheiro.
Este, para mim, é o foco que devemos adotar, a extirpação do financiamento privado das campanhas, algo que, a esta altura, quase todos podem entender.
Que o dinheiro, mesmo dado de forma legal, representa uma corrupção, senão venal e material, ao menos moral.
É preciso que se traduza o “reforma política” em algo que a população possa entender e identificar.
Proibição de dinheiro de empresas nas campanhas.
É algo que nos separe, como somos separados, do poder econômico, ainda que seja o circunstancial, por  estarmos no Governo.
Mas que traduz, de forma clara, qual a nossa relação com dinheiro.
Que é o veneno da política.
Hoje, no Correio do Povo, jornal gaúcho, o professor Juremir Machado de Silva traduz isso de forma simples:
(…)por que alguém gasta R$ 3 milhões para obter um emprego (de deputado) que não paga oficialmente o suficiente para se recuperar em 48 meses de trabalho metade do investido? Resposta pretensamente sábia: o poder compensa.”
Seu texto é para ser lido e compartilhado, porque é claro e vai ao ponto do que devemos pensar como ponto essencial do que queremos levantar como bandeira política, ue torne clara nossa relação de rejeição à promiscuidade com os interesses privados na política, ainda que eles sejam, como sempre foram, dominantes:

Valor de um mandato e teatro da oposição

Juremir Machado da Silva
Jamais encontrei alguém – especialista ou protagonista – para explicar de maneira convincente o mistério mais transparente do mundo: por que, na obtenção de um emprego, se gasta mais do que se receberá como remuneração? Para conquistar o cargo de deputado federal é preciso, em tese, investir mais do que se chegará a ganhar legalmente. Qual a lógica disso? A resposta cínica é simples: porque alguém paga a conta. Por exemplo, as empreiteiras. Por que pagam? Porque querem e levam algo em troca. Se for assim, o fundamento da coisa está podre desde sempre. É aceitável que seja essa a base?
Segundo os jornais, com base nas informações oficiais, os gaúchos José Otávio Germano, Jerônimo Goergen e Luís Carlos Heinze gastaram 13,7% da despesa total dos 31 eleitos do Rio Grande do Sul. Investiram, respectivamente, R$ 2,9 milhões, R$ 2,7 milhões e R$ 2,5 milhões. A mídia dos demais eleitos foi R$ 1,2 milhão. Volto a pergunta inicial: por que alguém gasta R$ 3 milhões para obter um emprego que não paga oficialmente o suficiente para se recuperar em 48 meses de trabalho metade do investido? Resposta pretensamente sábia: o poder compensa. Como? Irregularmente? Engevix, Grupo Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez financiaram parte das campanhas dos gaúchos citados e presentes na lista de Rodrigo Janot.
Em princípio, tudo regular. Mas é justamente de princípio que se trata: se uma emprega aceita gastar tanto para eleger um deputado é porque espera algo em troca suficiente para compensar o valor que foi gasto e muito mais. O quê? Quando? Em que proporções? O eleito, nesse caso, está desde o começo a serviço de quem pagou a sua conta? Se está, não é representante da população, mas de quem o financiou. Ou devemos acreditar como bons cordeirinhos da sociedade do espetáculo que as empresas, prestadores de serviço ao Estado, ajudam nas campanhas por idealismo e amor à democracia?
Partes interessadas devem sempre se declarar impedidas de participar de processos que possam beneficiá-las e prejudicar terceiros. Na democracia das empreiteiras, vigente no Brasil, as empresas que praticamente só fazem negócios com o Estado financiam a eleição dos que fixarão as regras do jogo. A população é convidada a acreditar que não há problema nisso. Nos Estados Unidos, normalmente apresentado como modelo para republiquetas bananeiras como a nossa, isso não é permitido. Por que nesse caso o que é bom para os Estados Unidos não é bom para nós? Nos States, um organismo, a FFC, regulamenta a mídia desde 1934. Por que também nesse caso o que é bom para os Estados Unidos não é bom para este nosso Brasil varonil?
Talvez a explicação possa ser mais dinâmica: o que é bom para os deputados pode ser muito bom para as empresas e vice-versa, sendo que o bom para deputados e empresas pode não ser bom para os brasileiros. Um exemplo: precisamos aprovar um Código Florestal que seja bom para o agronegócio e para os deputados que representam o agronegócio. Quem se dispõe a representar esses interesses? “Eu”, “Eu também”, “Aqui, atrás, contem comigo”. Fechado. Quanto vai custar a campanha?
Não se incomodem. Recurso não vai faltar. Ao trabalho.
Se a oposição estivesse, de fato, interessada em combater a corrupção, pediria o afastamento dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senador, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, oficial e formalmente suspeitos de corrupção.
O contrário é o que se vê: Eduardo Cunha foi bajulado por seus colegas ao poder na CPI da Petrobras.
O jogo da oposição é simples: derrubar o PT. O resto não interessa.
Essa partida se joga entre petismo e antipetismo.
O resto é teatro.
A corrupção é só um álibi.
O alvo da oposição agora é o Procurador-Geral da República.
Onde se viu colocar o Congresso Nacional no bolo.
O esperado era só Executivo.
Tem gente que não decora o seu papel e só faz confusão.

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