BCE sabota acordo com a Grécia, acusa Galbraith

Economista norte-americano diz que nos últimos dias o Banco Central Europeu agiu de forma a afetar a liquidez e as opções de financiamento do governo grego, tornando o futuro próximo incerto e prejudicando a discussão política entre Atenas e a UE.


“Há sempre algum fdp que não é informado”, diz Galbraith, evocando Kennedy. Foto do Parlamento Europeu
“Há sempre algum fdp que não é informado”, diz Galbraith, evocando Kennedy. Foto do Parlamento Europeu
Num artigo publicado esta segunda-feira na Open Democracy, o economista James Galbraith, amigo e colaborador do ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, acusa o Banco Central Europeu de estar a sabotar o espírito do acordo-ponte entre a Grécia e o Eurogrupo, “por motivos ainda não claros”. Galbraith recordou uma frase de John F. Kennedy durante a crise dos mísseis em Cuba, em 1960, quando um avião-espião U-2 americano foi abatido em espaço aéreo soviético – “Há sempre algum fdp que não é informado” –, para dar a entender que a atuação da instituição dirigida por Mário Draghi não está em sintonia com o acordo.

"Galbraith recordou uma frase de John F. Kennedy durante a crise dos mísseis em Cuba, em 1960, quando um avião-espião U-2 americano foi abatido em espaço aéreo soviético – “Há sempre algum fdp que não é informado
Para Galbraith, o acordo alterou a relação entre Atenas e Berlim, que agora deveriam estar a discutir medidas para evitar que “o governo grego fique sem dinheiro e que os bancos gregos não entrem em colapso”.
O BCE, porém, está a usar “mecanismos que afetam a liquidez dos bancos gregos e as opções de financiamento do governo”, pondo em dificuldades as finanças gregas, mantendo a pressão e tornando incerto o futuro próximo e as discussões políticas que “só podem ter sucesso se puderem realizar-se com tempo e tranquilidade”. E conclui: “Certamente, esta não é a altura para jogos como este”.
Draghi quer técnicos em Atenas
Segundo a agência Bloomberg, Mário Draghi disse segunda-feira às autoridades gregas que diante da situação crítica que enfrentam têm de deixar que representantes da Eurozona regressem a Atenas.
Draghi terá dito a Yanis Varoufakis que os registos do governo têm de ser examinados no local para determinar as insuficiências financeiras. A Comissão Europeia e o FMI estariam a fazer pressão no mesmo sentido.
Ora no mesmo dia, Yanis Varoufakis disse à imprensa, após a reunião do Eurogrupo, que a troika não volta a entrar na Grécia. "A troika é um grupo de tecnocratas. Chegavam a Atenas, entravam nos ministérios com uma atitude colonial e tentavam impor um programa. Essa prática acabou".
"Alguns colegas usaram a palavra troika. Se eles gostam tanto da palavra, podemos enviar a troika para eles. Eles não regressam à Grécia, disse Varoufakis"
Varoufakis sublinhou que, durante o Eurogrupo, alguns ministros das Finanças usaram a palavra troika e não "instituições", termo adotado pela Grécia. "Alguns colegas usaram a palavra troika. Se eles gostam tanto da palavra, podemos enviar a troika para eles. Eles não regressam à Grécia", reforçou.
Representantes da Grécia e das instituições europeias vão reunir-se quarta-feira, mas em Bruxelas, de acordo com a proposta grega.
Curiosamente, as pressões para que os técnicos do BCE voltem a Atenas vem desmentir as palavras do próprio presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que disse que se tinha perdido muito tempo em discussões sobre quem vai aonde, em vez de discutir o conteúdo das propostas.

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