Tempos de tensão cada vez mais elevada (II)
A inação tanto do governo como do próprio partido da presidente brasileira, o PT, abrem espaço para que as pressões sejam exercidas praticamente sem reação
Eric Nepomuceno - na Carta Maior
Resultado: a inação tanto do governo como do próprio partido da presidente brasileira, o PT, abrem espaço para que as pressões sejam exercidas praticamente sem defesa ou reação. Até agora, o que se vê por aqui é um governo que parece não saber como reagir, e que, quando reage, reage mal. O que resta é uma presidente acuada, enredada em seu próprio labirinto enquanto seu governo se mostra lento, atônito e sem rumo claro.
Foram anunciadas medidas econômicas que são exatamente o contrário do que Dilma defendeu na campanha eleitoral do ano passado, e que geram reações que vão do assombro às críticas mais virulentas em seu próprio eleitorado. Como é possível que ninguém seja capaz de explicar as razões dessa guinada, se é que houve alguma? Por que a maneira enfática com que se tenta tranqüilizar essa entidade sacrossanta chamada mercado não se repete na hora de tentar tranqüilizar a opinião pública, o eleitorado, o cidadão comum? O que tem levado o governo de Dilma a dar por perdida uma batalha que sequer disputou, a da comunicação?
Além disso, já ficou suficientemente claro que o governo enfrentará um Congresso hostil, especialmente na Câmara de Deputados. Ter como aliado o PMDB de Eduardo Cunha dispensa a necessidade, intrínseca em qualquer democracia, de se ter uma oposição parlamentar. Mais do que negociador habilidoso, o presidente da Câmara é um negocista famélico, e deixou perfeitamente claro o seu mais que peculiar sentido de equilíbrio. Este alto especialista em criar dificuldades para depois vender facilidades sabe-se lá a que preço parece disposto a fazer a vida do governo um inferno.
Some-se a isso outros dados concretos para que o panorama se faça especialmente nebuloso: em seu segundo mandato, Dilma terá de lidar com um Congresso ainda mais conservador que o primeiro, mais fragmentado, mais coalhado de marinheiros de primeira viagem que chegam sem saber ao certo as regras do jogo mas todos portando um formidável apetite por vantagens.
Como se fosse pouco, e como se o próprio quadro econômico não fosse mais do que preocupante, surge agora uma patuscada especialmente perigosa: a idéia de abrir um processo de impeachment da presidente, deixando à mostra que, para os impacientes setores que uma vez mais – a quarta consecutiva – não conseguem alcançar o poder nas urnas, qualquer remédio é bom quando se trata de curar as chagas do ressentimento.
Nesse quadro, no qual brilha com destaque uma Câmara presidida por um deputado rebelde e capaz de qualquer coisa para exibir seus talentos de chantagista político, fulge com luz própria o campo judicial, com um evidente manipular de informações cuidadosamente filtradas cujo objetivo único é debilitar o partido de Dilma, pressioná-la por todos os meios e tentar alcançar, de maneira direta, a figura do ex-presidente Lula da Silva.
Para o principal e mais ativo núcleo da oposição, aquele incrustado nos grandes meios de comunicação, qualquer denúncia pode e deve ser tomada como verdade absoluta. Pouco importa se existe ou não uma dose mínima de razoabilidade no que é denunciado. Pouco importa se são mais do que evidentes as intenções de quem – juiz, delegados da Polícia Federal, advogados dos réus – filtra com acurada seletividade o que é cotidianamente gotejado a jornais, revistas e emissoras de televisão.
Como se não bastasse a enorme, imensa gravidade do que ocorreu na Petrobras, é preciso ir além, sem esperar que a Justiça atue. O cerne da questão, o objetivo único, é encurralar Dilma e o PT. É paralisar o governo. Portanto, não é preciso investigar: as denúncias são suficientes, não importa em que condições tenham sido feitas, e por quem. E diante disso tudo, o que faz o governo? Ao que tudo indica, se encolhe.
Faltam três anos e dez meses para que Dilma termine seu segundo mandato. Ainda há tempo de sobra para reagir. Mas, principalmente, três anos e dez meses são tempo de sobra para que a pressão vá aumentando e, com ela, a tensão.
Tudo dependerá de quem tiver mais vontade política. Quando existe um vazio de poder, a democracia entra em perigo. O Brasil sabe o que acontece. Ou deveria saber. Aliás, deveria também saber que os que pregam uma espécie de amnésia coletiva recordam perfeitamente bem o quanto ganharam nos tempos em que a democracia era apenas uma esperança.
O segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff mal começou, e pelo andar da carruagem tudo indica que teremos pela frente quatro longos anos de pressão e tensão. Embora tenha saído fortalecida das eleições de outubro, a oposição continua sem norte e sem outro rumo que os ditados pelo mais banal ressentimento. Mas é visível outro fortalecimento, o da oposição praticada pelos grandes conglomerados de comunicação que agem sempre em defesa de grandes grupos econômicos. Não há limites para a manipulação de informações, para distorções aberrantes. E se nesse campo há semelhanças evidentes entre o que acontece aqui e o que ocorre na Argentina, também há ao menos uma diferença essencial: tanto a rede pública de rádio e televisão como meios que praticam jornalismo de apoio crítico ao governo têm forte atuação na Argentina. Aqui, não existe nada sequer parecido. Estamos todos entregues ao que há.
Resultado: a inação tanto do governo como do próprio partido da presidente brasileira, o PT, abrem espaço para que as pressões sejam exercidas praticamente sem defesa ou reação. Até agora, o que se vê por aqui é um governo que parece não saber como reagir, e que, quando reage, reage mal. O que resta é uma presidente acuada, enredada em seu próprio labirinto enquanto seu governo se mostra lento, atônito e sem rumo claro.
Foram anunciadas medidas econômicas que são exatamente o contrário do que Dilma defendeu na campanha eleitoral do ano passado, e que geram reações que vão do assombro às críticas mais virulentas em seu próprio eleitorado. Como é possível que ninguém seja capaz de explicar as razões dessa guinada, se é que houve alguma? Por que a maneira enfática com que se tenta tranqüilizar essa entidade sacrossanta chamada mercado não se repete na hora de tentar tranqüilizar a opinião pública, o eleitorado, o cidadão comum? O que tem levado o governo de Dilma a dar por perdida uma batalha que sequer disputou, a da comunicação?
Além disso, já ficou suficientemente claro que o governo enfrentará um Congresso hostil, especialmente na Câmara de Deputados. Ter como aliado o PMDB de Eduardo Cunha dispensa a necessidade, intrínseca em qualquer democracia, de se ter uma oposição parlamentar. Mais do que negociador habilidoso, o presidente da Câmara é um negocista famélico, e deixou perfeitamente claro o seu mais que peculiar sentido de equilíbrio. Este alto especialista em criar dificuldades para depois vender facilidades sabe-se lá a que preço parece disposto a fazer a vida do governo um inferno.
Some-se a isso outros dados concretos para que o panorama se faça especialmente nebuloso: em seu segundo mandato, Dilma terá de lidar com um Congresso ainda mais conservador que o primeiro, mais fragmentado, mais coalhado de marinheiros de primeira viagem que chegam sem saber ao certo as regras do jogo mas todos portando um formidável apetite por vantagens.
Como se fosse pouco, e como se o próprio quadro econômico não fosse mais do que preocupante, surge agora uma patuscada especialmente perigosa: a idéia de abrir um processo de impeachment da presidente, deixando à mostra que, para os impacientes setores que uma vez mais – a quarta consecutiva – não conseguem alcançar o poder nas urnas, qualquer remédio é bom quando se trata de curar as chagas do ressentimento.
Nesse quadro, no qual brilha com destaque uma Câmara presidida por um deputado rebelde e capaz de qualquer coisa para exibir seus talentos de chantagista político, fulge com luz própria o campo judicial, com um evidente manipular de informações cuidadosamente filtradas cujo objetivo único é debilitar o partido de Dilma, pressioná-la por todos os meios e tentar alcançar, de maneira direta, a figura do ex-presidente Lula da Silva.
Para o principal e mais ativo núcleo da oposição, aquele incrustado nos grandes meios de comunicação, qualquer denúncia pode e deve ser tomada como verdade absoluta. Pouco importa se existe ou não uma dose mínima de razoabilidade no que é denunciado. Pouco importa se são mais do que evidentes as intenções de quem – juiz, delegados da Polícia Federal, advogados dos réus – filtra com acurada seletividade o que é cotidianamente gotejado a jornais, revistas e emissoras de televisão.
Como se não bastasse a enorme, imensa gravidade do que ocorreu na Petrobras, é preciso ir além, sem esperar que a Justiça atue. O cerne da questão, o objetivo único, é encurralar Dilma e o PT. É paralisar o governo. Portanto, não é preciso investigar: as denúncias são suficientes, não importa em que condições tenham sido feitas, e por quem. E diante disso tudo, o que faz o governo? Ao que tudo indica, se encolhe.
Faltam três anos e dez meses para que Dilma termine seu segundo mandato. Ainda há tempo de sobra para reagir. Mas, principalmente, três anos e dez meses são tempo de sobra para que a pressão vá aumentando e, com ela, a tensão.
Tudo dependerá de quem tiver mais vontade política. Quando existe um vazio de poder, a democracia entra em perigo. O Brasil sabe o que acontece. Ou deveria saber. Aliás, deveria também saber que os que pregam uma espécie de amnésia coletiva recordam perfeitamente bem o quanto ganharam nos tempos em que a democracia era apenas uma esperança.
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