Paulo Nogueira: Corrupção só se combate de verdade sem hipocrisia
Todos somos contra o câncer, a violência e a corrupção.
Isto posto, vale a pena parar um pouco no caso Petrobras.
É claro que todos queremos que a empresa deixe de ser um alvo fácil para corruptos e corruptores.
Mas quando o “combate à corrupção” tem uma finalidade muito mais política do que propriamente moralizante, aí as coisas ficam um pouco mais complexas.
Ou, na verdade, muito mais complexas.
É quando a hipocrisia triunfa, quando o cinismo domina, quando a demagogia impera.
Combate à corrupção tem que ser apartidário, ou tem altas chances de ser apenas uma manobra de manipulação com propósitos nada edificantes.
No caso da Petrobras, soube-se hoje que um ex-gerente disse que começou a acumular propinas no tempo de FHC.
Isso não prova nada contra FHC, especificamente. Mas demonstra, cabalmente, que os problemas da Petrobras são antigos.
Como há, na mídia, um empenho gigantesco em associar qualquer ato de corrupção ao PT, a informação que cita FHC ou não aparece ou fica tão escondida que ninguém vê.
Os editores põem sob os holofotes tudo que remeta ao PT. E fora deles o resto.
Não só neste caso, mas em tudo, FHC é sempre poupado de noticiário constrangedor.
A mídia jamais se interessou em trazer ao público a compra de votos para a emenda de sua eleição, por exemplo.
A seletividade na hora de escolher os escândalos – só servem os deles — mina a credibilidade do combate à corrupção para todo cidadão que tenha passado da fase de ser conduzido pelas grandes empresas de mídia.
E então, graças ao favorecimento dos amigos, você vê cenas incríveis. Aécio, por exemplo, aparece como um Catão.
Aécio jamais foi instado a explicar o aeroporto de Cláudio. Jamais teve que dar satisfação a um jornalista sobre o dinheiro público que em sua gestão em Minas foi posto nas empresas de mídia da família.
Aliás, ele nunca falou dessas empresas. Os brasileiros souberam delas por acaso. Ele não disse ainda se acha moralmente aceitável que político tenha rádios e jornais.
Por uma razão: ninguém lhe perguntou.
É dentro desse quadro de rigor seletivo que você vê passar virtualmente em branco, na mídia, os subornos do metrô de São Paulo.
Não é assunto.
Ainda no âmbito do PSDB de São Paulo, a Suíça já comunicara ao mundo o bloqueio de uma conta milionária de um integrante do TCE, Robson Marinho, cria de Covas – e ainda assim ele permaneceu quatro anos no cargo.
Só em agosto passado, por decisão da Justiça, ele foi afastado. Ele ainda teve tempo de aprovar as contas de Alckmin relativas a 2012.
Uma situação tão bizarramente corrupta simplesmente não foi notícia. A mídia não se interessou em entender como uma aberração daquelas podia acontecer no Tribunal de Contas do estado mais rico do país.
Discursos anticorrupção só merecerão crédito quando não servirem a propósitos políticos.
Se o caso da Petrobras acabar na categoria das coisas em que a motivação é política e não ética, o avanço na luta anticorrupção mais uma vez será frustrado e frustrante.
No que depender da mídia, o desfecho será este, lamentavelmente.
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