Paraguai quadruplica a importação de agroquímicos em quatro anos
De 8 milhões de quilos em 2009, o Paraguai passou a comprar 43 milhões de quilos de agroquímicos em 2013, segundo um estudo realizado pela organização da sociedade civil Base Investigaciones Sociales (Base IS). Apenas em herbicidas, o número subiu de 6 milhões de quilos para 32 milhões de quilos neste período. O grande problema é que, enquanto a quantidade de produtos químicos aumenta, crescem também as denúncias de problemas de saúde possivelmente ocasionados pela contaminação do cultivo, do solo, da água e do ar.
No dia 2 de fevereiro, María Helena Benítez, atleta paraguaia de 16 anos, morreu internada no Hospital de La Plata, na Argentina, enquanto esperava para fazer um transplante de medula óssea (no Paraguai, nenhum hospital público faz transplante de medula óssea). Ela sofria de aplasia de medula óssea, doença que compromete a produção dos elementos do sangue.
Em muitos casos, é difícil identificar a causa. Os médicos, no entanto, informaram a família que existe a possibilidade de ter sido provocada por agentes químicos como pesticidas e herbicidas, por exemplo, presentes não apenas no ar e na água, mas no próprio alimento. Ela e a família viviam na cidade de Pilar, estado de Ñeembucú, região onde predomina o cultivo de arroz. Ali opera também um porto por onde chegam e são descarregados insumos como fungicidas, herbicidas, praguicidas, empregados principalmente no plantio de soja.
“Os sintomas se manifestaram imediatamente no caso de Leni. A partir de então, toda minha família não deixou um segundo de mobilizar todos os recursos de que dispunha. Em todos os hospitais, os médicos perguntaram se morávamos em proximidades de plantações de soja ou em contato com químicos ou produtos químicos que poderiam estar nos alimentos”, publicou Victor Benitez, irmão de María Helena, em seu perfil no Facebook.
A área de cultivo de arroz cresceu 200% em cinco anos no Paraguai, segundo o jornal local ABC Color. De 50.000 hectares do ciclo 2008/2009, a produção passou para 152.600 hectares em fevereiro de 2015. Para além dos problemas sociais causados pela expansão do agronegócio no país, o que os movimentos camponeses denunciam é o uso ilegal de produtos químicos na agricultura. Afirmam que os grandes produtores não via de regra não respeitam os limites das áreas estipuladas por lei e fazem aplicações perto das residências ou excedem a quantidade permitida. Junto disso, há o fato de químicos proibidos entrarem no país por contrabando.
Talvez o caso mais emblemático de morte por contaminação no Paraguai seja o de Silvino Talavera Villasboa, de 11 anos, em 7 de janeiro de 2003. Ele caminhava para casa quando entrou em contato com um agrotóxico de um trator que fazia pulverização em plantações de soja. O produto contaminou o pacote de carne que o menino trazia do açougue. Vinte e dois membros de sua família foram intoxicados naquele dia, mas sobreviveram, com exceção de Silvino. No exame de sangue de seus irmãos, foi constatada a presença de agroquímicos.
O médico José Luis Insfrán, pesquisador de Clínica Médica da Universidade Nacional de Assunção, afirma que houve um aumento de doenças no sangue e de tumores malignos coincidindo com a expansão do agronegócio no país. Segundo ele, citado pelo site da Base IS, há duas décadas, apenas 2 em cada 100 camas eram ocupadas por pacientes com câncer, enquanto atualmente há 30 para cada 100 leitos.
Os dados coletados pela Base IS serão apresentados no Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESC) das Nações Unidas, reunido entre 23 de fevereiro e 6 de março para discutir a situação do direito à alimentação no Paraguai, Tajiquistão e Gâmbia.
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