O SILÊNCIO DERRUBOU DILMA




por Paulo Moreira Leite

A inflação não disparou, o desemprego não subiu. Aprovação da presidente caiu 19 pontos porque, encerrada a campanha eleitoral, debate econômico voltou ao controle da velha mídia de sempre
Um mês depois do início do segundo mandato, Dilma Rousseff atinge um nível deprimente de impopularidade. A queda nos  índices de aprovação não é uma surpresa. Mas é importante discutir o que está por trás disso.
Nossos analistas econômicos continuam anunciando um apocalipse que insiste em não mostrar sua cara — ao menos até agora. O desemprego não aumentou. A inflação também não disparou.  Não há novidade na Operação Lava Jato, que segue seu curso esperado de espetáculo midiático. Vários fatores explicam a queda de Dilma mas o principal, na minha opinião, é a mudança no lugar do governo.

O último levantamento disponível, onde números de bom, ótimo, ruim e péssimos estavam praticamente invertidos, refletia a realidade política da campanha presidencial. Os ataques eram violentos e diários — mas Dilma tinha o horário político para defender-se, para argumentar e fazer o contraponto. Apesar da parcialidade dos meios de comunicação, o governo tinha como responder aos ataques.
Encerrada a campanha, voltamos ao monopólio de seus adversários, ao Manchetômetro nosso de cada dia.  Para ficar no Jornal Nacional, os números da última semana indicam 24 notícias contrárias para 9 neutras.
Outros fatores também pesaram, porém. O governo não apenas não tinha o horário político para defender-se — mas em nenhum momento empregou o espaço convencional para dar explicações, argumentar ou responder. Não confrontou versões nem fez a disputa — condição para impedir que um mentira repetida 1000 vezes se transforme em verdade.
A queda de 19 pontos na categoria bom e ótimo é um movimento tão grande que expressa outro sinal, porém. Difícil negar que eleitores que garantiram a vitória de Dilma no segundo turno, num confronto polarizado de projetos políticos, ficaram decepcionados com aquilo que veio depois.
A nomeação de um ministro da Fazenda inteiramente identificado com as ideias adversárias já seria complicada em qualquer situação, em particular num país onde a credibilidade não é a virtude mais reconhecida entre os políticos e candidatos. A novidade agravou-se porque a nova direção econômica veio acompanhada de medidas que, mesmo justificáveis do ponto de vista técnico, são economicamente desvantajosas para os assalariados, que mais uma vez sentiram-se chamados, compulsoriamente, a pagar um conta que  caiu no seu orçamento, poupando os ricos e endinheirados de qualquer sacrifício.
Como disse na época o professor Wanderley Guilherme dos Santos em entrevista ao 247: o governo poderia ter explicado o que estava fazendo, por que, para chegar aonde. Sem levar em conta essa realidade de uma sociedade de massas

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