Mauricio Dias: Alienígenas à vista

Punem-se os corruptos mas salvem-se as empresas, a bem do trabalho, do emprego e da independência do Brasil
por Mauricio Dias - na Carta Capital
PAC
Obras Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) em 2013
Há uma forte reação em movimento para conter a sede de vingança política, inoculada na oposição e sustentada pela mídia, com o objetivo de, ao fim e ao cabo, atingir a presidenta Dilma Rousseff. Em razão disso, os oposicionistas mantidos por falso sentimento de reação à corrupção brasileira, essa nossa velha conhecida, estão dispostos a sacrificar o que for preciso. Inclusive, a democracia.
Punir corruptos e corruptores fará bem ao País. Para isso, no entanto, não é preciso provocar milhares de desempregados e jogar fora todo o conhecimento de tecnologia produzido pelas empresas brasileiras e seus funcionários, ao longo de mais de meio século.

Não é preciso estar enrolado na bandeira nacional para perceber que, sem as empresas brasileiras, acorrerão para cá poderosos grupos estrangeiros “expulsos” daqui pela competição legítima. Nos anos 1950, quando as empreiteiras emergiram, a engenharia internacional ocupava esse espaço. Despontou, então, naquele momento o que foi chamado de “Império das Empreiteiras” embaladas, entre outras atividades, pela criação e afirmação da Petrobras.
“A chamada Operação Lava Jato (...) desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.”
“ (...) há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas.”
Esses dois trechos apontam para o que “está em jogo”.
O documento, em circulação pelas redes sociais, ignorado pela imprensa conservadora, é assinado, entre outros, por Celso Amorim, dom Demétrio Valentini, Fábio Konder Comparato e João Pedro Stedile.
Os argumentos favoráveis à sobrevivência das empresas citadas na Operação Lava Jato foram sustentados, primeiramente, pela presidenta Dilma Rousseff. A ideia propagou-se. Lula também se jogou na história.
Surge agora, no Rio de Janeiro, o movimento “Aliança pelo Brasil”, já com ramificações em São Paulo e Belo Horizonte. Além de diversas organizações sociais, tem apoio da maioria das centrais sindicais, com projeto de mobilizar a população “em defesa da Petrobras, da política do petróleo e do Estado social-desenvolvimentista”.
Caso haja fôlego, vão botar o bloco na rua.
Essa aliança apresenta-se como representante de 500 mil trabalhadores “com o emprego em risco como consequência da crise na Petrobras”. Para os organizadores já há “milhares de demissões” nas empreiteiras com contratos “de construção ou de prestação de serviços” na estatal.
A aliança também apoia as investigações e os processos contra os supostos corruptos e corruptores que, “comprovadamente”, participaram de ações criminosas. E faz um alerta: “A empresa é um instrumento de organização do processo produtivo; é um meio para produzir bens e serviços, não um fim em si mesma”.
Decretar o fim dessas empresas atinge e abala os projetos da Petrobras.

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