Golpistas brasileiros exigem solidariedade aos golpistas venezuelanos


  

Existem ainda pessoas ingênuas acreditando que, respeitadas as regras da democracia burguesa, tudo correrá normalmente vença quem vencer uma disputa eleitoral. Estes não perceberam que o compromisso da burguesia com a democracia é zero. As forças políticas chavistas venceram, nos últimos 15 anos, 18 eleições de 19 que ocorreram na Venezuela e mesmo assim os eleitos não viveram um só segundo sem a pressão, a chantagem e a ameaça de golpe da elite local, mancomunada com a mídia hegemônica.


O legítimo presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, seria alvo de uma tentativa de golpe de estado. O serviço de informação da Venezuela descobriu o plano, desbaratou o esquema e prendeu os criminosos. Em coro histérico a mídia hegemônica brasileira acusa o governo Venezuelano de autoritário, diz que “Nicolás Maduro prefere a truculência ao diálogo.” (Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 21/1) e de forma cínica “exige” que o Governo Dilma acuse o governo bolivariano de “violação dos direitos humanos”. Os tartufos não aceitam sequer que o governo democraticamente eleito da Venezuela proteja a legalidade e previna um golpe planejado por mercenários locais e agentes estrangeiros. E tudo isso em nome da democracia.

A paranoia

A mídia hegemônica diz que o governo bolivariano da Venezuela sofre de “paranoia” (Folha de S. Paulo) e O Globo “informa” que o plano do golpe foi descoberto graças à tortura. Não deixa de ser uma boa novidade descobrir que O Globo é contra a tortura. Podia ter sido contra há mais tempo, por exemplo na época em que o regime militar brasileiro, que O Globo apoiava, de fato matava e torturava. Hoje a tortura de que O Globo fala não passa de mais uma das calúnias do seu enorme arsenal. Quanto à paranoia, é sabido que a principal característica deste sintoma é uma desconfiança constante e infundada. Sendo assim, para a mídia hegemônica o golpe de 11 de abril de 2002 contra o presidente Hugo Chaves não aconteceu. Foi, provavelmente, paranoia coletiva. O que tentam esconder é que o roteiro de 2002 tem algumas semelhanças com o que hoje acontece naquele país e assim com em 2002 toda a mídia hegemônica brasileira apoiará mais uma vez um golpe se ele acontecer, seja na Venezuela, no Brasil, e onde houver um governo de caráter popular e democrático.

Como EstadãoFolha e Globo abordaram a “paranoia” de 2002

Mostrando pela enésima vez que não têm nenhum compromisso real com a democracia, quando o presidente Chávez foi derrubado por um golpe militar que dissolveu as instituições democráticas em abril de 2002, a mídia festejou intensamente. O jornal O Estado de S. Paulo estampou em editorial: “O fim do golpismo chavista”, onde dizia que “há casos em que a ruptura institucional serve mais à causa da democracia”. O Globo também foi explícito no editorial intitulado: “Mal do populismo”, onde afirmava em apoio ao golpe que “explicações argutas e sofisticadas para o fracasso do presidente Hugo Chávez não faltarão. Mas já se pode adiantar com segurança que a Venezuela se livrou do pitoresco presidente porque a fórmula por ele proposta para resolver os problemas e as injustiças seculares de um república latino-americana foi rapidamente repudiada”. O jornalFolha de S. Paulo, sempre mais cínico, intitulou seu editorial de “Golpe na Venezuela”, mas assim como o Estadão e O Globo também considerava como principal culpado o presidente deposto, pois era “um salvador da pátria (que) se lança numa empreitada alucinante para tentar construir uma nova sociedade (...) a aventura de Chávez se destinava ao fracasso. Seu governo calcou-se no voluntarismo demiúrgico, e não num projeto coletivo, indispôs-se com todos os setores organizados da sociedade”.

Nem paranoia nem ilusão

Em nenhum momento o editorial da Folha de S. Paulo clamou pelo restabelecimento do legítimo mandato conferido pelas urnas a Hugo Cháves. O texto terminava de forma vergonhosa limitando-se a pedir a realização de novas eleições no país sob o comando dos golpistas. Poucas horas depois a legalidade é restabelecida e Cháves (que segundo "análise" da Folha teria se indisposto comtodos os setores organizados da sociedade) reassume o poder nos braços do povo e com apoio de parte significativa das Forças Armadas. Novos editoriais sobre o surpreendente desfecho não foram escritos. A mídia hegemônica não é paranoica, mas friamente pragmática. Se eles não são paranoicos, do lado do campo popular não podemos nos permitir ilusões. É preciso sempre ter muito claro que não importa em que palavras pomposas sejam feitas as promessas da mídia hegemônica em nome da democracia, dos direitos humanos e da justiça social, as forças de classe que ela representa vêm nesta fraseologia apenas uma oca peça publicitária, destinada a enganar incautos e a consolidar seus projetos a serviço da reação e do capital financeiro. Defender a democracia e os direitos humanos na Venezuela é defender a revolução bolivariana.

Solidariedade a Miguel do Rosário

O caso da condenação do jornalista e blogueiro Miguel do Rosário, absurdamente condenado a pagar R$ 30 mil por criticar o pra lá de criticável serviçal da famigliaMarinho, Ali Kamel, prova de novo, mais uma vez, novamente, o quanto são hipócritas as juras da grande imprensa em defesa da liberdade de expressão. Como diz o próprio Miguel, esta condenação representa uma ameaça a própria democracia. A permanecer assim, não demora e juízes convenientes irão decidir que só a mídia hegemônica pode usar adjetivos para se referir aos adversários políticos (os adjetivos que condenaram Miguel foram “sacripanta” e “reacionário”). É necessário reagir não só com a constante denúncia sobre a corrompida mídia hegemônica nacional mas também com a solidariedade ativa ao combativo companheiro Miguel do Rosário. Reforçamos o pedido já feito aqui no Portal Vermelho no sentido da colaboração para que Miguel faça frente a esta condenação injusta e intolerável. Os leitores que quiserem ajudar, podem fazê-lo através deste link. Qualquer dúvida, use o email assinatura@ocafezinho (falar com Mônica Teixeira). O email de Miguel é migueldorosario@gmail.com (que é também seu ID no Paypal).

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