Flávio Aguiar: Agenda internacional da semana, 1º a 8 de fevereiro

Nesta semana vai se intensificar o confronto entre o novo governo grego e o establishment político alemão, que começou a tomar vulto na semana passada.

Flávio Aguiar, de Berlim
Arquivo


Tsipras vs. Merkel

Nesta semana vai se intensificar o confronto entre o novo governo grego e o establishment político alemão, que começou a tomar vulto na semana passada.  Atenas está agindo com grande velocidade. O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, foi à França no fim de semana conversar com seus colegas de área  no governo de Paris, Emmanuel Macris e Michael Sapin.
A seguir deve visitar Londres e Roma. Alexis Tsipras, o primeiro-ministro, conversou pelo telefone com Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, e recebeu a visita do presidente do Parlamento Europeu, o social-democrata Martin Schulz. Durante a semana vai à Itália e França, e deve conversar com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Atenas também contratou a empresa de aconselhamento financeiro Lazard para assessorá-la na renegociação da dívida pública. O objetivo do governo é passar a negociar diretamente com os credores públicos e privados, ao invés de por intermédio da chamada Troika – BCE, FMI e Comissão Europeia.

Com isto, espera conseguir mais cortes na dívida e maior prazo para pagá-la, condicionando os pagamentos e seu ritmo ao crescimento da economia e alívio da situação interna. Angela Merkel e o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble já declararam que não aceitam novos cortes na dívida. O vice-primeiro-ministro grego, Giorgos Katrougalos, respondeu: “se a Grécia quebrar, ninguém vai receber nada, nem mesmo a Alemanha”. Há simpatias dispersas pela Europa em relação ao novo governo, ainda que por vezes veladas: é o caso da França, da Holanda, da Itália e até mesmo na Espanha, onde o primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy está sendo acossado pela nova oposição, o Podemos. No Reino Unido Atenas vai contar certamente com a simpatia do Labour, na frente das pesquisas de intenção de voto para a eleição de 7 de maio. Até o momento apenas a Finlândia e Portugal declararam apoio fechado à posição alemã, que arrisca ficar mais isolada do que a grega, no fim de contas.

Podemos na Espanha

No sábado passado o novo partido de esquerda Podemos realizou uma manifestação em Madri com 100 mil pessoas e com representantes vindos de Portugal, da França e da Bélgica. Na pauta, a proposta de romper o cerco dos “planos de austeridade” caso vença a eleição nacional prevista para o segundo semestre deste ano, e palavras de ordem como “recuperar a soberania e a dignidade nacionais”. Há uma grande expecativa em relação à Grécia no ar. Se a eleição fosse hoje, segundo as pesquisas, o Podemos seria o partido mais votado e, portanto, seria o primeiro encarregado a formar um novo governo. A posição do Partido Socialista pode ser decisiva neste sentido, pois espera-se que o Partido Popular, de Rajoy, passe para a oposição.

Alemanha: Pegida em crise

A semana passada foi algo caótica para o movimento de direita Pegida, anti-imigrante e anti-muçulmano. Apesar de algumas manifestações de simpatia, a sua direção entrou em crise. Seu líder Lutz Bachmann renunciou, depois da divulgação de uma foto sua imitando Adolf Hitler e também de declarações a favor da Ku-Klux-Klan dos Estados Unidos. Kathrin Oertel, que já aparecera como porta-voz do Pegida em programas de tevê, assumiu a liderança, apenas para renunciar dias depois, com outros membros da direção. Apararentemente está havendo um confronto interno entre simpatizantes dela e simpatizantes de Bachmann. Nas ruas o movimento sofreu alguns reveses. O “Legida”- ou seja, o movimento na cidade de Leipzig – anunciou uma manifestação prevendo 15 mil pessoas. Vieram apenas 1.500, e houve uma manifestação simultânea contrária que reuniu 5 mil. Nesta semana o Pegida promete retomar o ritmo das manifestações em Dresden, centro do movimento desde seu início.

Ucrânia: os combates recrudescem

A frágil trégua na Ucrânia foi rompida de vez, com a intrensificação dos combates entre rebeldes separatistas e tropas do governo de Kiev em várias frentes. Em Mariupol, cidade portuária controlada por Kiev, um míssil matou pelo menos 30 pessoas e feriu dezenas. Em Donetsk, praticamente uma capital dos separatistas, outro míssil matou várias pessoas, sobretudo idosos e crianças, que estavam numa fila para receber ajuda humanitária. O governo de Kiev e os separatistas trocam acusações sobre quem fez os disparos. Há combates em torno do aeroporto de Donetsk, já praticamente destruído. Há dezenas de mortos de ambos os lados e as conversações de paz em Minsk, na Bielo-Rússia, estão paralisadas.

França: começa o julgamento de Dominique Strauss-Kahn

O ex-diretor-presidente do FMI e ex-virtual candidato à presidência do país pelo Partido Socialista é acusado de organizar festas de embalo aliciando garotas de programa para si e para convidados no Hotel Carlton, na cidade de Lille.

Tecnicamente a acusação é de prática de “proxenetismo com agravantes”, e menciona casos semelhantes ocorridos nos Estados Unidos e na Bélgica. Strauss-Kahn fora detido em Nova Iorque depois de escândalo envolvendo a acusação de ter forçado a camareira de um hotel da cadeia Safitel à prática de sexo oral com ele. A acusação caiu por terra diante de denúncias de que a suposta vítima teria mentido à imigração (era originária da Guiné), além de outras faltas.

Mas consta que Strauss-Kahn teria pago a ela vultosa indenização. A prostituição não é crime na França, mas a prática de proxenetismo (aliciamento de prostitutas, cafetinagem) é. Lille, além de ser o lugar de nascimento de Louis Pasteur, é famosa na literatura por ser a terra onde se passaram os primeiros crimes da personagem Milady, d’Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas Pai, e do carrasco que a matará ao fim do romance.

Reino Unido: julgamento do caso Alexander Litvinenko

Continua em Londres o julgamento do caso do ex-agente russo Alexander Litvinenko, que pediu asilo em Londres com sua mulher Marina em 2000. Em 2006 Litvinenko adoeceu gravemente e faleceu depois de um encontro, cujas razões até hoje não foram bem esclarecidas, com dois supostos homens de negócios russos, Dmitri Kotvun e Andrei Lugovoi, hoje acusados de serem agentes secretos.

Litvinenko morreu por envenenamento radioativo com polônio, e os dois russos são acusados como criminosos por sua morte. O Reino Unido pediu a deportação de ambos à Rússia, o que foi negado. Os dois negam as acusações. Lugovoi hoje é deputado na Duma (Parlamento Nacional) russa. Advogados da mulher de Litvinenko acusam Vladimir Putin de ser o mandante do crime. Ela depõe no tribunal nesta segunda-feira. O polônio é um veneno fortíssimo e, se bem manipulado, não deixa traços. Inexplicavelmente Kotvun e Lugovoi teriam deixado rastros marcantes do elemento no hotel onde estavam e em outros pontos da cidade.

Estado Islâmico

O Estado Islâmico anunciou a morte do jornalista japonês Kenji Goto, em mais uma de suas exibições macabras de degola ao vivo e posterior decapitação da vítima. As atenções agora se voltam para a sorte do piloto jordaniano em poder do E. I., que exige a libertação de uma mulher acusada de tentativa de ataque suicida na Jordânia. Este país pediu – ainda sem resposta – uma prova de que o piloto ainda está vivo, e mostra-se disposto a fazer a troca. Porém advertiu que se o piloto for morto, executará por enforcamento não só a mulher objeto da negociação, mas também todos os outros prisioneiros do Estado Islâmico em seu poder. Nos últimos dias o E. I. sofreu uma série de reveses no plano militar. Perdeu de vez a cidade de Kobane, na fronteira da Síria com a Turquia, para os curdos. Estes se transformaram na principal força em terra combatendo os militantes do Estado Islâmico, tanto na Síria quanto no Iraque, e vêm mantendo uma ofensiva em diferentes áreas, com apoio aéreo por parte dos Estados Unidos e aliados. A movimentação não agrada o presidente turco Rcep Tayyip Erdogan, que teme o fortalecimento da proposta de formação de um estado independente e também da esquerda turca, vista como aliada dos curdos.

Israel, Estados Unidos, Irã

O convite feito pelos republicanos, majoritários em ambas as casas do Congresso norte-americano, para que o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu faça um pronunciamento sobre o Irã no Capitólio no dia 3 de março, vem provocando  forte polêmica tanto nos Estados Unidos quanto em Israel. O movimento é visto como um apoio implícito à candidatura de Netanyahu à reeleição no pleito israelense previsto para 17 de março, bem como um desafio ao presidente Barack Obama, que já anunciou que não receberá, desta vez, o mandatário de Tel Aviv. Entretanto vários analistas vêm apontando que o tiro pode sair pela culatra para ambas as partes (republicanos e Netanyahu), uma vez que o convite na verdade estaria reforçando a diposição do Irã de de fato chegar a um acordo com as potências nucleares (EUA, França, Reino Unido, Rússia e China) mais a Alemanha e a ONU sobre seu programa nuclear até 30 de junho.

Egito

O governo egípcio anunciou a libertação e consequente deportação do jornalista australiano Peter Greste, da Al Jazeera, acusado de “incentivo ao terrorismo”. O jornalista já chegou a seu país natal. Dois outros jornalistas continuam presos. Ao mesmo tempo um tribunal egípcio confirmou a sentença de morte de 183 membros da Irmandade Muçulmana acusados de participação na morte de policiais durante manifestações em 2013.

Argentina

Continua o embate retórico entre o governo e a mídia de oposição em torno da morte do promotor Alberto Nísman. Várias acusações e suspeitas lançadas pela mídia vem sendo desmentidas pela equipe de investigação, chefiada pela também promotora Viviane Fein. A presidenta Kirchner manifestou disposição de fechar da Secretaria de Inteligencia do serviço secreto do país, e de sibstitui-la por outra agencia criada para este fim, depois de afirmar que não se descarta a possibilidade de que membros daquela Secretaria tenham tentado manipular Nísman para lançar acusaçòes contra seu governo.

Ebola

Pela primeira vez anunciou-se a diminuição de casos de contaminação com o Ebola no noroeste da África, que já causou quase 9 mil vítimas fatais e mais de 20 mil casos confirmados. A Libéria, um dos países mais atingidos, anunciou que começará a aplicação de uma vacina experimental, que já demonstrou eficácia em chimpanzés.




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