Depois do “vazamento seletivo”, temos o “jornalismo seletivo”
Autor: Fernando Brito
Muitos me perguntam porque não falei dos depósitos feitos por 8.667 brasileiros no HSBC da Suíça, revelado pelo chamado SwissLeaks.
Simples. Porque não sei quem são.
Só uma pessoa – o jornalista Fernando Rodrigues – e uma empresa – o UOL – sabem.
Hoje, ele publicou alguns, de donos da Odebrecht e de algumas pessoas citadas na tal Operação Lava Jato.
Evidente que, à exceção do gerente ladrão da Petrobras, Pedro Barusco, não se pode dizer que o dinheiro dos demais seja criminoso.
Embora, do ponto de vista moral, ter conta na Suíça – exceto para quem tem negócios por lá – já seja um indicador de muito pouca boa-fé.
O UOL publica uma “explicação” para o fato de estar publicando “em pílulas” os donos das contas.
A imensa maioria dos nomes contidos na listagem brasileira do HSBC da Suíça é desconhecida do grande público. Há uma minoria de pessoas conhecidas. Empresários, banqueiros, artistas, esportistas, intelectuais. Quais nomes e contas bancárias serão divulgados? Em primeiro lugar, os que tiverem interesse público, e, portanto, jornalístico. Em segundo lugar, todos sobre os quais se puder provar que existe uma infração relacionada ao dinheiro depositado no HSBC na Suíça.
Baixou o espírito “Sérgio Moro” na empresa?
Primeiro, não foi essa a política adotada pelo consórcio de jornalistas que apurou os dados.
Como não se sabe, por exemplo, que o banqueiro Edmond Safra, de nacionalidade brasileira, tenha posto lá dinheiro de roubalheira, porque foi divulgado? E o piloto de F-1 Fernando Alonso, acaso andou metido com Paulo Roberto Costa?
Segundo, porque decide que “só serão publicados dados que tenham interesse público”.
O que é interesse público? Crime, fama, função pública? Não é do interesse público que o dono do supermercado, o síndico do prédio, o gerente da empresa têm conta na Suíça?
É violação do sigilo bancário saber-se que uma pessoa tem conta na Suíça ou apenas seria se eu informasse – como o UOL faz com quem decide ser de interesse público – dizer quanto eu movimentei nela?
Mas na explicação ética, o UOL faz pior.
Primeiro, compara o valor detido por estes brasileiros no HSBC (R$ 20 bilhões) com – vou citar literalmente – “um montante próximo ao que o governo da presidente Dilma Rousseff precisa economizar em 2015 para fazer o ajuste fiscal do país”.
Vejam, como se Dilma pudesse “meter a mão” nesta dinheirama e resolver os problemas nacionais.
Não beira a manipulação política. É a própria.
Vai adiante, porém. Acusa Dilma de desídia:“não há interesse da administração pública federal comandada pela presidente Dilma Rousseff em apurar o que ocorreu’.
Por que?
Governo não é uma quitanda e se rege de acordo com as leis.
As razões estão nas próprias “acusações” do UOL:
“Uma fração mínima de nomes sob os quais há alguma suspeita foram mostrados ao governo, de maneira reservada.”
E aí o governo faz o que? Abre uma investigação, com quebra de sigilo bancário e fiscal, sobre alguns nomes “selecionados” pelo UOL e já dá à empresa o resultado do que apurar?
“O Blog e o UOL entendem que o governo não pode revelar os nomes de quem cometeu crime fiscal. Mas pode dizer –e a sociedade tem o direito de saber– quantos são os que mantiveram dinheiro de forma irregular no HSBC da Suíça.”
Quantos de quantos? De todos? Ou dos que o UOL quer? Que diabos de ação pública seria essa de dizer: “olha, destes 18 que vocês trouxeram, 15 estão irregulares”.
Aliás, se o governo fizer isso, não sobra uma ação fiscal na Justiça contra eles. Caem todas, por obtenção ilícita de informações.
Se ter conta na Suíça é indício de crime – eu, particularmente, acho que é, pela ocultação de patrimônio que não pode ser checado pela autoridade fiscal – é para todos e o Ministério Público deve agir. E sem vazamentos seletivos.
Diante disso, fico com as palavras de meu professor de jornalismo, Nílson Laje, que tem mais de 50 anos de janela sobre a imprensa brasileira:
“Não existe mais repórter “do jornal”.
O que existe agora é repórter “da fonte”.
Atua em um ramo de publicidade não contabilizado – a “publicidade contra”.
Escolhido, pode ser ou não remunerado pela tarefa; atua com a concordância e apoio do veículo em que trabalha – e que este, sim, fatura de algum modo.
Assim é com os vazamentos do Lava-jato. E, agora, com os vazamentos de nomes de investidores brasileiros no HSBC.
O repórter incumbido da tarefa de “vazar” esses nomes alinha, um por um, os que interessam à fonte. com a qual é ou se faz solidário. Vaza aos poucos,por motivos mercadológicos e porque sabe que não há competição.
A garantia do negócio é a falta do contraditório ou da concorrência.
No caso, o interesse transparente da fonte, que coincide com o interesse do veículo, é o mesmo da orquestração midiática em curso: visa pessoas ligadas ao governo nacionalista e a empresas nacionais que se pretende desnacionalizar.
Os outros nomes não importam ou “ficam para depois”.
Chamam a isso de “furo”.
O que existe agora é repórter “da fonte”.
Atua em um ramo de publicidade não contabilizado – a “publicidade contra”.
Escolhido, pode ser ou não remunerado pela tarefa; atua com a concordância e apoio do veículo em que trabalha – e que este, sim, fatura de algum modo.
Assim é com os vazamentos do Lava-jato. E, agora, com os vazamentos de nomes de investidores brasileiros no HSBC.
O repórter incumbido da tarefa de “vazar” esses nomes alinha, um por um, os que interessam à fonte. com a qual é ou se faz solidário. Vaza aos poucos,por motivos mercadológicos e porque sabe que não há competição.
A garantia do negócio é a falta do contraditório ou da concorrência.
No caso, o interesse transparente da fonte, que coincide com o interesse do veículo, é o mesmo da orquestração midiática em curso: visa pessoas ligadas ao governo nacionalista e a empresas nacionais que se pretende desnacionalizar.
Os outros nomes não importam ou “ficam para depois”.
Chamam a isso de “furo”.
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