Yanis Varoufakis: 'Vamos desmantelar a cleptocracia grega'

'Vamos combater a imunidade tributária das elites. Não é apenas uma questão de evasão fiscal, mas de que grande parte de sua renda nem sequer é tributada.'

Andy Robinson - La Vanguardia - na Carta Maior
Marc Hatot / Flickr
Yanis Varoufakis, que será um dos grandes responsáveis pela política financeira do governo de Alexis Tsipras, explica nesta entrevista qual será a estratégia de um novo governo do Syriza para mudar as políticas da troika sem provocar uma crise financeira. Professor de Economia na Universidade de Austin (Texas), é colaborador próximo de Tsipras há dois anos.

- Há o risco de o BCE fechar a torneira da liquidez para a Grécia se ela não aceitar os ajustes da troika?


Sempre existem riscos, mas não acredito que o BCE retire nossa liquidez se formos diretamente a nossos sócios europeus em Frankfurt, Paris, Berlim e Bruxelas e explicarmos as propostas racionais que temos. Pediremos uma semanas, um período de graça, durante as quais lhes adiantaremos essas novas políticas.

- Essas propostas consistiriam em quê?

Elas têm quatro fases. Primeiro, temos um plano muito elaborado em relação ao que é preciso fazer com a dívida, e sobre o qual não entrarei em detalhes agora. Logo depois, haverá um programa de reformas profundas que nós, e enfatizo que somos nós, queremos fazer e que não serão impostas pelo FMI, pela OCDE ou quem quer que seja. Refiro-me a reformas que deixarão claro que não estamos interessados em voltar aonde estávamos, no ano de 2010.

- Que tipo de reforma?

É sobre como vamos combater a imunidade tributária das elites. Não é apenas uma questão de evasão fiscal, mas de que grande parte de sua renda nem sequer é tributada. Existe uma claptocracia na Grécia, um ciclo vicioso que abarca os fornecedores dos estados, os banqueiros e os meios de comunicação. Nós proporemos reformas para desmantelar esse ciclo. E logo proporemos medidas de emergência para responder à crise humanitária na Grécia, e que qualquer europeu decente estará muito interessado em estudar.

- Os líderes europeus rechaçam taxativamente qualquer modificação no programa da troika, não é mesmo?

Esse memorando alternativo que vamos propor é sensato e racional, e por isso acho impossível acreditar que o BCE logo diga: "Olha, senhores, acabou; nós vamos esmagá-los". Vamos emitir letras do Tesouro para financiar as atividades do Estado nos primeiro seis meses do ano. Os bancos gregos as comprarão e serão utilizadas como aval para a liquidez proporcionada pelo BCE. Não existe qualquer limite fixo sobre a liquidez que o Banco Central possa proporcionar. Na Irlanda, o elevaram a 70 bilhões. Se é preciso prevenir a fragmentação do euro, elevarão a liquidez até onde for necessário.

- Há uma solução só para a Grécia?

Não. Proporemos ideias a respeito de uma recuperação impulsionada pelo investimento na zona do euro. Não apenas para a Grécia, mas também para a Espanha, para a Irlanda. O Syriza já defende a modesta proposta que Stuart Holland e eu temos proposto, de um new Deal europeu baseado no investimento público, na criação de emprego e na reestruturação da dívida.

- O governo da Nova Democracia advertiu que a Grécia pode ficar sem dinheiro se não assinar o memorando da troika...

É interessante como eles mudam de discurso. Antes das eleições, a narrativa era de que a Grécia é uma história de êxito, que estamos saindo da crise. Quando chegam as eleições, de repente, a Grécia vai ficar sem dinheiro com um governo do Syriza. Quer dizer, tudo isso foi uma manobra política. Foi uma intenção de chantagear. É perfeitamente compreensível que a senhora Merkel, que o senhor Draghi, que o senhor Juncker queiram um governo grego que faça o que eles mandem. Mas não é assim. Todas essas advertências foram teatrais. Um jogo antidemocrático que acredito que beneficie Le Pen, Farage, e o Aurora Dourada.

- É possível sobreviver sem o crédito de 7 bilhões, condicionado à assinatura do novo memorando?

Não queremos esse crédito se não chegarmos a um acordo segundo nossos critérios. Estamos pedindo maior margem fiscal por meio das letras do Tesouro.

- O Syriza estaria disposto a aceitar uma prorrogação dos prazos de reembolso da dívida e cortes dos tipos de juros?

Não. Não vamos pedir isso. Não estamos interessados apenas na redução do valor líquido presente da dívida. Queremos reduzi-la de uma vez. Temos um plano.



Créditos da foto: Marc Hatot / Flickr

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