Petrobras, a sangria.
Autor: Fernando Brito
A condução da chamada “Operação Lava-Jato” segue um criterioso roteiro.
Não se trata de dizer que não houve crimes na Petrobras e que este foi grossa roubalheira, fique claro.
Mas salta aos olhos que tudo está sendo conduzido com o mais escandaloso propósito de sangrar, até o máximo possível, a empresa e o governo.
Estamos ao sabor do “será que disse; será que não disse” há meses.
Há gente presa – há quase três meses – e, embora eu não nutra a menor simpatia por dirigentes de empreiteiras, vai se configurando um quadro absolutamente anti-jurídico de manter sob prisão quem não admitir confessar verdades ou falsidades.
90 dias em cana fazem muita gente chamar urubu de meu louro, não é?
Ainda mais se ao ladrão se oferece a possibilidade de ser poupado no Credo, como Barrabás, se aopontar não o polegar, mas o indicador, na direção “certa”.
Chegamos ao ponto em que o juiz Sérgio Moro diz que só poderia soltá-los se todos os contratos das empresas com governos “em todos os três âmbitos federativos” sejam suspensos e se parem todas as obras públicas de vulto no País, independente de haver qualquer suspeita sobre elas, exceto o fato de quem as executa.
Qualquer um que tenha a mínima noção de Direito sente arrepios ao ver este nível de discricionarismo. Até, para ser justo, o Reinaldo Azevedo.
O Ministério Público, enquanto isso, dedicou-se arduamente às suas férias de janeiro, sem dar prosseguimento ao seu dever de denunciar os acusados.
Vai-se esticando a novela e, agora, com a ajuda luxuosa da própria direção da Petrobras que, na tentativa de mostrar-se “transparente” ao mercado só consegue fazer com que a opinião pública já não confie em uma empresa que, como nenhuma outra, é essencial para o país.
Há um evidente processo de sangramento político e econômico da Petrobras, e às sangrias só há uma coisa a fazer: estancá-las.
A direção da empresa – sem nenhum sinal ou denúncia de falta de honradez pessoal de seus integrantes, já o disse antes – está se mostrando incapaz disso.
Quer fazer “democracia” onde o que se exige é comando.
Nenhuma empresa do mundo resiste a isso e não é possível, em nome do Brasil, deixar que o tecnicismo amador deixe de enxergar que esta é uma questão política.
Exemplos vêm às dúzias.
Exemplo: a Petrobras “pode” deixar de pagar dividendos aos acionistas, uma das manchetes da semana.
Ora, o pagamento de dividendos não é obrigatório e pode deixar de ser feito quando a conjuntura o exige. E tome exigência da conjuntura do mercado de petróleo com queda de 60% nos preços em três meses. Mas se não há decisão de suprimi-los, porque anunciar o “pode”? O pode está na lei, ora.
O outro fato escandaloso que é suprimido pela mídia é o de que toda a operação de furto na empresa se deu – tenham havido conexões políticas ou não – por funcionários de carreira, não por “estranhos” aos quadros da companhia, o que mostra mais um problema estrutural que conjuntural de governança.
É preciso entender que a gestão de uma grande empresa é política.
A teimosia é diferente do estoicismo.
Sobretudo nos resultados que produz.
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