Oposição à venda de ativos portugueses deixa futuro da Oi mais incerto

Por Luciana Bruno - Reuters
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os ventos contrários à venda dos ativos portugueses da Oi tornam o futuro da operadora de telefonia ainda mais incerto, e analistas preveem que, caso a operação não seja aprovada, a companhia terá de realizar novo aumento de capital, intensificando a queda do valor de suas ações.
    Acionistas da Portugal Telecom SGPS reúnem-se na próxima segunda-feira para analisar a venda dos ativos portugueses da Oi ao grupo francês Altice por 7,4 bilhões de euros. A venda é um esforço para reduzir o endividamento de quase 50 bilhões de reais da Oi e torná-la capaz de participar de um eventual processo de consolidação no mercado de telecomunicações brasileiro, com uma eventual oferta pela rival TIM.
A venda dos ativos vai desfazer na prática uma desastrada fusão da empresa com a Portugal Telecom realizada no ano passado e que foi azedada pelo calote de cerca de 900 milhões de euros de um investimento realizado pelo grupo português na holding Rioforte.
    Na quinta-feira, o presidente da assembleia de acionistas da Portugal Telecom SGPS, principal acionista da Oi, defendeu o fim da fusão com a operadora brasileira e o cancelamento da assembleia marcada para o dia 12. A defesa do fim da fusão ocorreu um dia depois que o banco português BPI, acionista indireto da Portugal Telecom, dizer que a fusão teria de ser travada, pois a queda das ações da Oi estaria causando destruição de valor na companhia portuguesa.
Além disso, nesta semana, acionistas minoritários da empresa portuguesa manifestaram descontentamento com a venda dos ativos, alegando que a alienação infringe o contrato de fusão firmado entre as operadoras.
A visão é compartilhada pelo sindicato dos trabalhadores da Portugal Telecom, segundo o qual acordos originais não foram cumpridos pela Oi e, assim, a dissolução da fusão deve ser submetida à apreciação dos acionistas, antes que qualquer venda seja considerada.
Apesar das manifestações, o Conselho da Portugal Telecom SGPS inicialmente manteve a data da reunião de acionistas, ressalvando, contudo, que de fato a aprovação da venda representará o abandono dos termos da união entre as companhias. Mas, segundo uma fonte ligada à companhia, o Conselho voltou atrás e marcou para esta sexta-feira reunião com o objetivo de analisar a possibilidade de suspender ou adiar a reunião de acionistas.
Analistas ouvidos pela Reuters no Brasil consideram improvável uma reversão da fusão, devido à sua complexidade, mas consideram a possibilidade da venda dos ativos ser barrada pelos acionistas da Portugal Telecom SGPS. O próprio presidente-executivo da Oi, Bayard Gontijo, afirmou à Reuters em outubro, logo após assumir a presidência da empresa, que a fusão com a Portugal Telecom era irreversível.
Procurada nesta sexta-feira, a Oi não comentou os protestos que defendem o fim da fusão.
    "Voltar atrás (na fusão) é muito complicado porque já foi feita uma oferta pública (de ações). Os investidores seriam ressarcidos? Essa possibilidade tende a ser nula", disse Celson Plácido, estrategista da XP Investimentos.
Os papéis preferenciais da Oi acumularam queda de quase 23 por cento nos primeiros cinco pregões do ano, dando sequência à desvalorização dos papéis no ano passado, que foram alvo de um grupamento em novembro para melhorar seu preço na bolsa. No começo da tarde desta sexta, as ações operavam em alta, após terem caído mais de 2 por cento no início dos negócios do dia.
Plácido considera a venda dos ativos portugueses o melhor caminho para a Oi, tendo em vista sua dívida de quase 50 bilhões de reais. No entanto, caso essa operação seja barrada, a única alternativa para a Oi seria uma nova oferta de ações ou mesmo a sua venda-- apesar de esse não ser um desejo do governo brasileiro, na opinião do analista.
    "A dívida da Oi continua e está cada vez mais cara. Com taxa de juros e dólar subindo, quem vai dar crédito para uma companhia altamente endividada?", questionou, apostando na necessidade de uma nova emissão de ações. "(Com uma nova emissão) os papéis vão cair mais ainda. Mas tudo tem preço."
Nesta sexta-feira, a Portugal Telecom divulgou relatório da consultoria PriceWaterhouseCoopers (PwC) que indica falhas na gestão de risco dos investimentos da Portugal Telecom e que questiona o papel de ex-executivos da empresa no episódio do calote da Rioforte.
Uma outra alternativa para a empresa seria a busca de nova oferta pelos ativos portugueses, disse o consultor e ex-ministro das Comunicações do Brasil Juarez Quadros. "Mas seria delicado, porque o preço oferecido pelos franceses (Altice) já é firme e justo."
Anteriormente, os ativos portugueses da Oi receberam oferta de grupo formado pelas empresas de private equity Apax e Bain e pelo grupo português Semapa, que fizeram proposta de 7,075 bilhões de euros. A empresária angolana Isabel dos Santos também se interessou pelo processo e chegou a fazer oferta para tentar evitar a venda.
    Para Ari Lopes, analista da consultoria Ovum, um veto à alienação causará mais incerteza sobre o futuro da Oi, que prometeu migrar para o segmento Novo Mercado, da BM&FBovespa, no primeiro trimestre deste ano, após aS aprovações definitivas da fusão com a Portugal Telecom.
Lopes lembrou que a relação entre os sócios brasileiros e portugueses deteriorou-se muito depois da Portugal Telecom ter sofrido um calote da Rioforte. Segundo o analista, a venda dos ativos é o melhor cenário tanto para a Oi como para os próprios acionistas da Portugal Telecom SGPS, já que barrar a alienação significaria para os acionistas portugueses continuar em uma empresa grande, porém, altamente endividada.
Além da data da próxima segunda-feira, a Oi ainda tem pela frente como fator de incerteza uma importante assembleia em 26 de janeiro, quando pedirá a debenturistas permissão para descumprir métricas de endividamento para ter recursos e flexibilidade financeira este ano.
(Edição Por Alberto Alerigi Jr. e Raquel Stenzel)

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